Começou a maior festa popular do Brasil. Além de ser um símbolo da cultura brasileira, o Carnaval gera renda, movimenta a economia e tem um papel importantíssimo na indústria cultural, sobretudo da música e dos setores de turismo, alimentos e bebidas.
O Carnaval de 2025 terá um faturamento estimado em R$ 12,03 bilhões. Marcas de diversos setores aproveitam o momento para fazer suas ativações. Em São Paulo, o Carnaval de Rua está com um patrocínio de R$ 27,8 milhões da AMBEV. Já a Amstel está marcando presença nos blocos de rua de São Paulo, Recife, Olinda e Vitória. O Boticário também entra na festa, com ativações em diversas cidades, incluindo o Rio de Janeiro.
Diante da magnitude do Carnaval enquanto força motriz econômica, é importante resgatar a importância da cultura negra nesse evento. O Carnaval tem raízes pagãs e cristãs, mas foram as influências dos povos afro-brasileiros – com seus batuques, escolas de samba, frevos, blocos e maracatus – que conferiram suas características mais marcantes.
Será que os produtores de evento, marcas e demais setores envolvidos no Carnaval estão olhando para esse ponto e produzindo a partir de um olhar negro? Ao meu ver, esse movimento ainda é bem tímido.
Os principais blocos e festas ainda são organizados e produzidos majoritariamente por um alto escalão de pessoas brancas que não olham para essa questão em profundidade. No mesmo ritmo, de forma geral, as marcas também não estão considerando uma narrativa negra em suas comunicações. Como pessoas da indústria da criatividade, produtores, marcas ou simplesmente consumidores, é fundamental que nos questionemos: por qual razão isso ocorre? E o que podemos fazer para impulsionar as iniciativas que estão mantendo e zelando a cultura negra no país?
Deixo o questionamento e cito 8 soluções:
- Criar editais abertos exclusivos para iniciativas (blocos e festas) negras.
- Aportar incentivo financeiro para os barracões de escolas de samba, espaços que reúnem a comunidade responsável por construir o Carnaval, com mais profissionais negros.
- Ampliar o acesso de coletivos negros à Lei Rouanet, Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc.
- Criar um fundo de fomento permanente para a cultura afro no Carnaval.
- Reduzir impostos para empresas que financiam projetos de cultura negra no Carnaval.
- Desenvolver pacotes turísticos que valorizem o Carnaval negro, atraindo visitantes internacionais interessados na cultura afro-brasileira.
- Criar programas de formação para artistas, produtores e empreendedores negros do Carnaval.
- Estabelecer parcerias com centros culturais, universidades e organizações internacionais para fomentar intercâmbios e aprimorar o trabalho artístico.
Concluindo, acredito que, para fortalecer as iniciativas negras dentro do Carnaval, é essencial articular estratégias que combinem políticas públicas, financiamento privado, economia criativa e valorização da cultura afro-brasileira.
Destaques da cultura negra no Carnaval 2025
O Carnaval com maior visibilidade global está trazendo a cultura negra com bastante força. A religiosidade afro está pulsante nos hinos das agremiações do Grupo Especial das escolas de samba do Rio de Janeiro. A palavra “fé” está presente em metade dos sambas-enredo, assim como “macumba”, termo que, diante de uma sociedade racista, carrega diversas críticas.
A ancestralidade e a homenagem às manifestações afro-religiosas irão tomar conta da Sapucaí, no Rio de Janeiro, uma cidade na qual 54% da população é negra. A escola de samba Mangueira trará homenagens ao povo bantu. A atual campeã, Viradouro, falará sobre Malunguinho, entidade afro-indígena que se manifesta como Caboclo. Também não faltarão sambas trazendo os orixás – Exu, Xangô, Oxalá, entre outros. Os rituais de cura das religiões afro-brasileiras estarão presentes nas letras, mencionando banhos de ervas, ebós e demais ritos.
Em 2024, o Brasil registrou mais de 3.850 violações por intolerância religiosa, um aumento de mais de 80% em relação a 2023. Em um país marcado pela violência contra quem pratica uma fé de origem preta, é essencial que essa cultura tenha espaço em um evento tão influente no Brasil e no mundo.
Em Salvador, outro destino icônico no Carnaval do Brasil, há iniciativas fundamentais na resistência da cultura negra, como os blocos afro. Alguns dos mais representativos são:
- Olodum
- Ilê Ayê
- Malê de Malembe
- Malê Debalê
- Mazenza
- Didá Banda Feminina
Além de promoverem a musicalidade afro-brasileira, os blocos afro são espaços de resistência e verdadeiras comunidades. Vale a pena conferir, acompanhar e incentivar!
E você, qual celebração da cultura negra gosta de ver no Carnaval?