Dia Internacional da Mulher Africana: celebrando o protagonismo e desafios das mulheres no Continente

Celebrado em 31 de julho, o Dia Internacional da Mulher Africana destaca a luta e o protagonismo das mulheres no continente, abordando sua contribuição para o movimento pan-africanista, os processos de paz e os desafios atuais.

Dia Internacional da Mulher Africana: celebrando o protagonismo e desafios das mulheres no Continente Foto: Clarke Sander

No dia 31 de julho, o mundo celebra o Dia Internacional da Mulher Africana, uma data que remete à Conferência das Mulheres Africanas, realizada em 1962 em Dar Es Salaam, Tanzânia. Este evento não apenas marcou a fundação da Organização das Mulheres Pan-Africanas (PAWO), mas também representou um marco na luta por igualdade de gênero e justiça social no continente africano. Neste artigo, exploraremos o fortalecimento dos feminismos na África, sua intersecção com o movimento pan-africanista, e o impacto das mulheres nos processos de paz e nos desafios enfrentados nas sociedades contemporâneas.

O Movimento Pan-Africanista e o papel das mulheres

O surgimento da PAWO e o fortalecimento dos feminismos na África estão intrinsicamente ligados à expansão do movimento pan-africanista. Este movimento, que visa unir os povos africanos para alcançar a independência formal e superar as consequências do colonialismo, teve grandes avanços com a criação da Organização da Unidade Africana (OUA) em 1963, predecessora da União Africana, estabelecida em 2002 durante a Conferência de Durban (Belluci, 2010; Harris e Zeighdour, 2010).

Como Blenda Santos destaca em sua análise sobre o pan-africanismo, a participação das mulheres nesses movimentos foi crucial para a redefinição das estruturas sociais e políticas na África. Apesar de um aumento na participação e representação das mulheres em processos políticos ao longo dos anos, suas lutas e ativismos têm sido fundamentais para a construção da paz, principalmente em contextos de crise (Santos, 2021). A inclusão feminina nos processos de paz não apenas enriquece o debate sobre as raízes das crises, mas também oferece soluções mais abrangentes e sustentáveis.

Desafios e violências: a realidade das mulheres africanas

As mulheres na África enfrentam múltiplas camadas de violência, que não são apenas baseadas em gênero, mas também em questões culturais e de nacionalidade. No cenário internacional, a África muitas vezes é vista como um território a ser tutelado, contrastando com a imagem de desenvolvimento e democracia associada aos Estados Unidos e à Europa. Essa visão estereotipada frequentemente legitima intervenções externas sob o pretexto de ação humanitária, muitas vezes ignorando as demandas locais e agravando os problemas existentes (Oyěwùmí, 2004).

Essas intervenções externas tendem a marginalizar ainda mais as mulheres africanas, reforçando estereótipos e excluindo-as dos processos políticos e decisórios. A “hegemonia cultural euro-americana” contribui para a racialização do conhecimento, desconsiderando e generalizando as realidades africanas e as experiências femininas no continente (González, 2021).

Foto: Kingsley Osei-Abrah
Foto: Kingsley Osei-Abrah

Movimentos e avanços na luta por direitos

Diversos movimentos africanos têm se destacado na luta pelos direitos das mulheres e pela equidade de gênero. Organizações como o MULEIDE em Moçambique e o FÓRUM MULHER têm desempenhado papéis significativos na promoção de políticas e práticas que visam eliminar a violência de gênero e promover oportunidades igualitárias. Fundado em 1991, o MULEIDE foca no combate à violência baseada em gênero e no apoio a mulheres em situações de vulnerabilidade, enquanto o FÓRUM MULHER atua na mediação entre a sociedade civil e o Estado para a formulação de políticas públicas eficazes (MULEIDE, 2023; Fórum Mulher, 2023).

O projeto Mulheres em Movimento, da CARE, lançado em 2016, é outro exemplo de uma estratégia regional que visa a emancipação econômica e social de mulheres e meninas na África Ocidental. Através de grupos de poupança, a iniciativa busca fortalecer a participação das mulheres na sociedade e promover mudanças sociais no nível familiar e comunitário (CARE, 2023).



O papel do Dia Internacional da Mulher Africana

O Dia Internacional da Mulher Africana é mais do que uma data comemorativa; é uma oportunidade para refletir sobre os avanços e os desafios enfrentados pelas mulheres no continente. A celebração desse dia é essencial para destacar a luta contínua das mulheres africanas e para fomentar o engajamento coletivo na busca por uma sociedade mais equitativa e justa.

Ao reconhecer e apoiar os movimentos que promovem os direitos das mulheres e sua participação ativa nos processos de tomada de decisão, podemos contribuir para um futuro onde a história das mulheres africanas não seja apagada, mas sim celebrada e valorizada.

Imagens: Rede de Mulheres Líderes Africanas. Por: ONU Mulheres/ Flickr.

Referências

  • Bellucci, A. (2010). O Estado na África. Revista Tempo do Mundo, 2(3), 9-43. Disponível em: Revista Tempo do Mundo
  • CARE. (2023). Mulheres em movimento. Disponível em: CARE
  • Fórum Mulher. (2023). Quem somos. Disponível em: Fórum Mulher
  • González, L. (2021). Por um feminismo afro-latino-americano. Editora Zahar.
  • MULEIDE. (2023). Mulheres em ação. Disponível em: MULEIDE
  • Oyěwùmí, O. (2004). Conceptualizing Gender: The Eurocentric Foundations of Feminist Concepts and the Challenge of African Epistemologies. CODESRIA Gender Series, Volume 1. Dakar: CODESRIA.
  • Santos, B. (2021). Entre ativismos e pan-africanismos: “travessias” internacionais de mulheres negras. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal da Bahia.