O termo negro tem origem na palavra latina Niger, que se relaciona ao que é escuro ou preto. A palavra gerou outros termos comumente associáveis ao negativismo, como: noir, nigger, etc
Nos Estados Unidos, desde 1850, se utilizava o termo “negro” (ou ‘nigro’, na pronúncia), para dois grupos: os chamados Black e os Mulattos. E essa era uma subdivisão que já reforçava a definição de oportunidades com base na intensidade da cor da pele. Inclusive, no estado da Virgínia, foi promulgado o Ato de 1785, que definia como “negro” qualquer indivíduo filho ou neto de pessoa “black”. E este ato teria sido o surgimento legal do sistema “One drop rule”, ou “Regra de uma gota”. A partir da sua promulgação, qualquer pessoa com uma gota de sangue “black” passaria a ser considerada um “africano puro”.
No entanto, como sempre e sempre, desde antes da abolição e continuamente depois, os negros foram associados à violência, houve um momento em que a intelectualidade negra norte-americana resolveu reconstruir sua denominação.
Por isso passou a se chamar black people ou afro-americans.
E entenda: isto é uma postura de se autodefinir, não deixar que os outros os definissem e serem radicais e orgulhosos quanto a cor da pele, que pode ser descrita como “preta”.
Mas no Brasil isto se torna mais complexo
Porque temos muitas pessoas descendentes de negros, chamados mestiços, que não poderiam ser chamados de pretos, por cor de pele, mesmo que quisessem
Então, mesmo quando pessoas assim querem assumir sua negritude, a manutenção do termo negro se mantém como a mais abrangente aqui
E é importante ainda lembrar que, durante o período escravocrata, fazia-se uma distinção semântica entre os dois termos: negro era o escravo insubmisso e rebelde. Preto era o cativo fiel.
E com a organização dos movimentos negros, houve um esforço importante de ressignificação da palavra NEGRO, abrangendo todos os descendentes e mestiços, chamados por termos díspares como: mulato, cafuzo, pardo, mestiço, moreno, cabloco, mameluco, etc
Ou seja, os movimentos negros abraçaram a todos os afro-brasileiros para que se definissem: você é negro! E isto se mantém forte até hoje.
O termo preto foi ressignificado pelos estadunidenses e nós importamos este orgulho em dizer, também, “sou PRETO”. Contradizendo este princípio histórico escravocrata do cativo fiel e orgulhando-se da coloração básica da pele.
Então, o termo preto tem uma função mais autoafirmativa, que funciona em um nível mais sentimental enquanto denominação de orgulho
Já, o termo negro é abrangente, enquanto identidade que reconhece não somente os de pele escura.
Não há problema, portanto, em usar nem um, nem outro.
Até porque, quando a gente fala de discriminação racial, nosso fenótipo, ou seja, nossos traços físicos como formato de rosto, cabelo, nariz, cor da pele são os principais alvos de identificação: quem olha pra estes traços e os discrimina não entra em conta se o dono deles é preto ou negro.
Este trecho do livro O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado, do Abdias do Nascimento é muito autoexplicativo e definitivo sobre esta discussão. Ele diz:
“Um brasileiro é designado preto, negro, moreno, mulato, crioulo, pardo, mestiço, cabra — ou qualquer outro eufemismo; e o que todo mundo compreende imediatamente é que se trata de um homem de cor, um negro, não importa a gradação da cor da sua pele”.