Nos dias 28 e 29 de agosto, Salvador será protagonista da Temporada França-Brasil 2025, uma iniciativa dos presidentes Emmanuel Macron e Luiz Inácio Lula da Silva que celebra dois séculos de relações diplomáticas entre os dois países. A capital baiana receberá três exposições de grande relevância e o lançamento de um projeto que conecta França, Brasil e África, dando início a cinco meses de intensas trocas culturais, científicas e ecológicas.
Um intercâmbio de história e futuro
A Temporada é fruto da colaboração entre o Instituto Guimarães Rosa e o Institut Français, sob coordenação dos Ministérios da Cultura e das Relações Exteriores de ambos os países. Iniciada em abril com eventos do Brasil na França — que seguem até setembro —, no Brasil a programação contará com mais de 300 atividades apresentadas pela França em 15 cidades até dezembro de 2025.
Mais do que um simples intercâmbio, a Temporada se organiza em torno de três grandes eixos temáticos: clima e transição ecológica, em diálogo com a Conferência das Nações Unidas sobre os Oceanos (Nice, junho de 2025) e a COP30 (Belém, novembro de 2025); diversidade das sociedades, incluindo diálogos com a África e reconhecimento dos povos indígenas no Brasil e dos povos autóctones franceses; e democracia e globalização equitativa, propondo uma globalização mais justa e inclusiva.
Salvador: três exposições e um anúncio
Na capital baiana, as aberturas se dividem entre os principais museus da cidade:
- Roméo Mivekannin no MAM-BA (28/8, 19h) – Com a presença do governador Jerônimo Rodrigues e do embaixador da França Emmanuel Lenain, o artista beninense radicado na França inaugura 11 obras que revisitarem obras-primas da pintura europeia, como A Barca de Dante de Delacroix, para propor uma leitura decolonial sobre memórias coletivas, naufrágios e caos.

- FatumbIA no Museu de Arte da Bahia (29/8, 17h) – A exposição reúne 110 fotografias de Pierre “Fatumbi” Verger e 16 imagens do franco-beninense Emo de Medeiros, também co-curador da mostra ao lado de Alex Baradel, da Fundação Pierre Verger. Além de registros históricos no Brasil, Benim e Nigéria, serão exibidos documentos originais, publicações e objetos pessoais de Verger, destacando sua iniciação religiosa e a transformação em Fatumbi.
- Coleção FRAC no MAC_BA (29/8, 19h) – Mostra de videoarte com obras dos Fundos Regionais de Arte Contemporânea (FRAC), explorando diversidade, migração e deslocamentos. Entre mar e pedra, humano e animal, lembrança e mito, a exposição se apresenta como um arquipélago de narrativas fragmentadas, que discutem pertencimento e identidade no mundo contemporâneo.
Além das exposições, será anunciado em coletiva na Villa Fatumbi (29/8, manhã) um projeto de cooperação cultural entre França, Brasil e África, sinalizando o caráter multilateral e diaspórico da Temporada.
Festival Nosso Futuro: diálogos e celebrações
Entre 5 e 8 de novembro, Salvador receberá o Festival Nosso Futuro, com debates, música e gastronomia. No centro do evento estará o Fórum Nosso Futuro: França-Brasil, Diálogos com a África, aberto por Macron e Lula, reunindo jovens e lideranças dos três continentes para discutir cidade inclusiva, justiça territorial, igualdade de gênero e culturas afrodescendentes.
O festival inclui ainda o Trace Fest Salvador, encontro da cultura afro-urbana que nesta edição traz a francesa Meryl e o nigeriano Seun Kuti, além de artistas brasileiros. Já o projeto gastronômico As Grandes Mesas: Encontro Gastronômico França-Brasil-África (1 a 8 de novembro) ocupará restaurantes como Omí, Zanzibar, Preta, além do MAM-BA e da Casa do Benin. Chefs dos três continentes promoverão residências e jantares colaborativos que valorizam heranças afro-diaspóricas e práticas sustentáveis.
Demais aberturas no Brasil
Antes de Salvador, outras cidades já receberam programações inaugurais:
- Brasília – O “Festival Convergências” abriu a Temporada com o Fórum Juventude e Democracia no Sesi Lab, a exposição Nego Fugido no Museu Nacional da República, o espetáculo de funambulismo Respire e o festival de música CoMA no CCBB.
- São Paulo – Recebeu a exposição O Poder de Minhas Mãos, com mulheres artistas africanas, o Concerto Brasil-França no Sesc Pompeia, a Bienal Têxtil de Clermont-Ferrand no Sesc Pinheiros, o espetáculo Les Voyages no Parque da Independência e a performance Atomic Joy, de Ana Pi, na Pinacoteca.
- Belém – Será palco da Bienal das Amazônias (29/8 a 30/11), reunindo 74 artistas da Pan-Amazônia e do Caribe sob curadoria de Manuela Moscoso, Sara Garzón e Jean da Silva. Também abriga o seminário Conexões Amazônicas (26 a 28/8), que antecipa a COP30 e revisa a cooperação científica entre Brasil e França.
Programação nacional em destaque
Entre as iniciativas de alcance nacional, a Temporada traz:
- Artes Visuais – Exposição no Instituto Tomie Ohtake com a coleção do poeta martinicano Édouard Glissant e participação de 15 artistas franceses na Bienal de São Paulo, em sua maioria ligados à França ultramarina e à diáspora africana.
- Espetáculos e Música – A orquestra binacional Ecos da Amazônia, unindo jovens músicos da Guiana Francesa e do Pará; participação da cantora francesa Zaho de Sagazan no Festival Cocktail Molotov em Recife; além do já citado Trace Fest Salvador. O encerramento da Temporada será marcado pela recriação da ópera-balé Les Indes Galantes, de Rameau, pela coreógrafa Bintou Dembele, ao lado de dançarinos de hip hop franceses e brasileiros no Theatro Municipal de São Paulo.
- Cinema – A Mostra de Cinemas Africanos (10 a 24/9 no Rio e Salvador; 12 a 16/11 em São Paulo), único festival dedicado aos cinemas africanos contemporâneos no Brasil; e o Festival de Cinema do Rio, com foco especial em cineastas mulheres francesas.
- Debates e Literatura – O Colóquio Oyapock no Museu da Língua Portuguesa sobre diversidade linguística na fronteira franco-brasileira; o Fórum Econômico Franco-Brasileiro da Transição Energética no Rio; e uma delegação de autores franceses e africanos na FLUP (Festa Literária das Periferias).
Continuidade de uma parceria
A Temporada França-Brasil 2025 dá sequência a dois grandes momentos anteriores: o Ano do Brasil na França (2005), que apresentou uma nova imagem do país, e o Ano da França no Brasil (2009), que trouxe a produção contemporânea francesa. Agora, em 2025, o passo é mais ambicioso: unir culturas e trajetórias em torno de valores comuns como diversidade, democracia e compromisso climático.
A iniciativa conta com apoio de um extenso comitê de mecenas, com empresas como ENGIE, L’Oréal, LVMH, Carrefour, Banco do Brasil e Petrobras.