21.06.2024 Ícone da categoria

Aori: conector das ruas

O rapper lança seu novo álbum "O Pirata e o Jaganata", com o DJ e produtor Ralph: mistura de cultura geek, tradição africana e beats poderosos.

Aori: conector das ruas Aori Sauthon continua a inspirar e transformar a cena cultural urbana, equilibrando arte, negócios e conexão social.

Posso te falar com propriedade sobre Aori. Posso te falar, inclusive, sobre uma percepção e um entendimento sobre quem é Aori, que são anteriores — e ainda assim, impregnados, mesmo que naquele momento eu não tivesse consciência — da figura artística do rapper que Aori Sauthon também é.

Eu digo também, porque, definitivamente, Aori Sauthon é mais do que um nome na cena do hip-hop brasileiro. E ser um nome na cena do hip-hop brasileiro já é algo colossal. Imagina o que é ser mais do que isto. Aori, nas suas décadas construindo pontes para a cultura da rua, conseguiu conectá-la a mais do que esquinas. Foi assim que o conheci: ambos sob o mesmo guarda-chuva de marketing de uma grande empresa, com Aori transformando capacidade de conexão com cultura em negócios

Tudo isso — este Aori que é um e muitos — só nasce porque, há 20 anos, nasceu a Batalha do Real e a Liga dos MCs: dois acontecimentos culturais nascidos sob as mãos de Aori para ajudar a colocar microfone e potência nas mãos e na voz de talentos como Emicida, Rashid e Projota. Era uma abertura de portas para a cultura negra nas ruas do Rio de Janeiro para o Brasil.

Você faz ideia do que eu tô falando? A Batalha do Real foi o primeiro duelo de rimas criado no Brasil. A festa de freestyle é um pilar da cultura hip-hop carioca que atraiu talentos de todo o Brasil e se projetou para além de terras fluminenses. É um rito de passagem. É lá que um jovem MC testa suas rimas e é testado pelo público. Os duelos ajudam os jovens a afirmarem o talento, o carisma e a fazerem o próprio nome na cena.

A Batalha do Real, na Lapa, Rio de Janeiro. Imagem: divulgação
A Batalha do Real, na Lapa, Rio de Janeiro. Imagem: divulgação

Agora, se significados ancestrais também são importantes para você, talvez você queira investir e se debruçar no nome de origem de Aori: Anwonrianaga de Mello Sauthon (que, de origem tribal, foi trazido do Gabão por seu pai, e significa algo como: “todos são iguais” ou “as outras pessoas também são gente”) o propósito, a razão de ser, o norte que levou Aori a percorrer os caminhos que têm percorrido. E é um caminho de conexões. Capaz de traduzir para o universo repleto de idiossincrasias do branding e do marketing as formas de tangibilizar que diabos, afinal, é a rua.

Esta capacidade fez Aori enveredar por escolhas que, só agora à distância em que é possível contemplar o panorama, faz todo o sentido: virou um homem de comunicação e marketing. E, tradutor das ruas, foi trabalhar com quem quer dialogar com elas, em empresas como Nike e Nubank, desempenhando papéis de caçador de tendências. Um construtor de pontes entre o universo corporativo e a cultura de onde vem. Este equilíbrio entre arte, negócios e cultura é a essência de sua trajetória.

O Pirata e o Jaganata: seu segundo álbum de estúdio, em parceria com o MC, DJ e Produtor Musical Ralph.
O Pirata e o Jaganata: seu segundo álbum de estúdio, em parceria com o MC, DJ e Produtor Musical Ralph.

E agora, Aori resolveu focar este conhecimento e paixão novamente em um projeto próprio. O rapper, empresário e produtor executivo de cultura urbana, uniu todas estas facetas durante um longo período para conceber o que vem a ser o seu novo disco. O Pirata e o Jaganata. O Jaganata, personagem multifacetado criado por Aori, é o grande protagonista: um pirata, andarilho, rapper e profeta que habita uma Terra paralela onde a música possui propriedades espirituais e mágicas, em busca de bens familiares que ele acredita terem sido sequestrados por Barba Negra, o terrível ladrão de loops, um pirata conhecido por roubar trechos de músicas antigas. Jaganata é o alter ego de Aori neste álbum, enquanto o Barba Negra, o terrível ladrão de loops, é um personagem criado pelo MC, DJ e Produtor Musical Ralph. Este vilão já havia sido introduzido ao público no álbum “As Incríveis Histórias de: Underground Superhero vs. O Terrível Ladrão de Loops”, lançado em parceria com Akira Presidente. É uma mistura rica de referências culturais e históricas, inspirada por quadrinhos, cultura geek e a tradição oral africana, para criar uma narrativa que conecta o passado ao presente, sempre com uma espinha dorsal sólida de beats e rap.

É o mais recente trabalho de quem vê o hip-hop como uma ferramenta poderosa de mudança social e política e, em um momento de maturidade artística, convidando o público a emergir em um universo multifacetado de personagens e histórias.

Aori Sauthon, o conector das ruas, continua a misturar arte, negócios e cultura urbana de maneiras inovadoras e impactantes. Seu novo álbum é uma prova de sua visão criativa e da capacidade de transformar desafios em oportunidades, inspirando futuras gerações a seguir seu caminho. E a sua fala, na entrevista exclusiva que fiz com ele, nos deixa muito certos disso. Leia enquanto ouve seu álbum, já disponível em todas as plataformas.

O Pirata e o Jaganata é uma obra conceitual rica em referências culturais e históricas. Como surgiu a ideia de criar um personagem como Anaga Agbara Umehara Abboubakkar, o Jaganata?

Olha, cara, essa ideia veio, tudo começa nessa coisa do Jagannath e do Juggernaut, né? Essa adaptação do nome brasileiro do Juggernaut dos X-Men nos anos 70 me chamou a atenção. A partir daí, comecei a destrinchar mais o personagem e entender ele mais a fundo. Esse nome tem uma inspiração direta. Vamos lá, o Anaga faz parte do meu nome de família, o Anori Anaga, como algumas pessoas me chamam. Já falei até numa música. Umehara é uma homenagem a Daigo Umehara, o maior jogador de Street Fighter de todos os tempos. Ele é o primeiro pro-player de videogames, veio do Japão e joga até hoje com 30 anos de carreira. Ele é uma inspiração em termos de dedicação, humildade, devoção ao ofício e técnica. Anaga Agibara… Ah, esqueci do Agibara. Agibara é um sufixo que adicionei, que significa poder em Yorubá. E o Abubakar é em homenagem ao Abubakar, um dos nomes mais ricos da história ao lado do Mansa Musa. Quis adicionar esse toque de riqueza no nome. Então, as referências começam a ser construídas a partir do nome do personagem. Diz muito sobre onde quero levar esse personagem: o universo dos games, dos jogos de luta, uma expressão de poder, ao mesmo tempo algo familiar, que exprima a riqueza, não só material como intelectual.

A comunicação visual foi feita através da inteligência artificial pela Gana, agência de publicidade
A comunicação visual foi feita através da inteligência artificial pela Gana, agência de publicidade

A criação do Barba Negra como um vilão que rouba trechos de músicas antigas é fascinante. Como você e Ralph desenvolveram essa narrativa e quais foram suas principais influências?

A sacação veio quando começamos a falar do Jagannath. Construímos esse universo e, no começo, ele, como é inspirado no Fanático, era um vilão, quase um anti-herói. Mas quando entrei mais a fundo na história, entendi que ele precisava de um vilão, um oponente. Aí olhei pro meu lado e o coautor do álbum comigo era nada menos que o Barba Negra, o terrível ladrão de loops. Foi um casamento perfeito, porque um terrível ladrão de loops seria o cara ideal para se apropriar de músicas antigas, familiares do Jagannath. Ele virou o adversário perfeito com o MacGuffin perfeito, que são os beats. A história gira em torno disso. No final, essa história tem uma inspiração na nossa tradição oral africana e em como construímos mitos, onde não existem heróis e vilões. Tem momentos em que vidas se cruzam, e a relação muda ou é desvendada. O Barba Negra é a fonte dessa saga do Jagannatha atrás de um passado que vai além dos beats, tem a ver com a identidade dele e como ele se posiciona no mundo. Estamos falando de dois mundos: a Terra Disco, onde o Jagannatha nasceu e onde a música tem um poder incrível, espiritual e místico, e o mundo atual, onde a música se perdeu nos algoritmos e não tem mais tanto valor. Fomos construindo a narrativa sempre conversando com o Ralph. Isso fica claro na faixa “Duelo de Alta Cúpula”, onde o Jagannatha e o Barba Negra se encontram cara a cara. O Ralph chegou com um verso furioso para representar nesse duelo, que não é só físico, mas também um duelo de diálogo e entendimento.

O álbum incorpora elementos de quadrinhos, cultura hindu, pirataria, cultura pop e cinema. Como você conseguiu equilibrar todas essas influências para criar uma obra coesa?

Cara, fica mais simples envolver tantos elementos quando temos uma espinha dorsal muito sólida, que são os beats do Barba Negra e a mídia, seu rap, o canto falado. Isso ajuda a dar coesão à história. Falar de quadrinhos, cultura geek na rima é algo que faço há muito tempo, desde os Inumanos. Inclusive, a pirataria é uma tônica forte dos anos 2000, do Napster, do Torrent, do LimeWire, de como a música navegava. Isso é uma característica forte do meu trabalho. Então, quando passamos esse verniz da cultura hindu, dessas citações, soa natural, porque já está dentro de um ambiente familiar para o que já vínhamos construindo. Tem um pensamento profundo na construção do universo do Jagannatha, de onde eles vêm, como se vestem, como falam. Metade está aqui dentro da minha mente, muita coisa documentei. Fiz desenhos, criei áudios, usei inteligência artificial para construir diálogos que me levaram a diferentes lugares desse mundo. Também pesquisei sobre a cultura hindu, li, ouvi músicas, já que é uma cultura cheia de cânticos e orações. Tentei adicionar isso de maneira delicada no rap.

Durante a pandemia, você lançou a música “Jaganata”, que inspirou a expansão do universo desse álbum. Qual foi o impacto da pandemia na sua criatividade e produção musical?

A pandemia me fez, uma palavra comum que a galera usa bastante, me reinventar. Grande parte da minha renda vinha de produção de eventos e sempre produzi música de forma coletiva. Na pandemia, tive que aprender a me gravar usando meu MacBook e um microfone USB, e me conectar com os produtores à distância. Foi um desafio no começo. Também tive mais tempo para revisitar minha coleção de quadrinhos, ler mais, ver mais séries. A pandemia foi um momento muito doloroso para todos nós, difícil dizer que saiu algo bom dela, mas nos adaptamos. Foi um momento de crescimento artístico, doloroso, mas desenvolvi mais a auto-criatividade e autonomia, que já era uma tônica do it yourself, do punk e do hip hop. Isso nos ajudou a avançar nessa decisão e posição.

Barba Negra, o terrível ladrão de loops, é um personagem criado pelo MC, DJ e Produtor Musical Ralph.
Barba Negra, o terrível ladrão de loops, é um personagem criado pelo MC, DJ e Produtor Musical Ralph.

A personagem Jaganata foi inspirada pelo Juggernaut da Marvel e pela divindade hindu de mesmo nome. Como essas referências se conectam à narrativa do álbum?

Eu sou um super fã de quadrinhos Marvel, desde os 6 anos de idade, praticamente me alfabetizei lendo os gibis da editora Abril, da Marvel, em formatinho. X-Men talvez seja minha série favorita, tanto a fase do Chris Claremont com o John Byrne quanto a fase do Jim Lee. O Juggernaut era um personagem que me interessava, achava interessante a coisa dele ser imparável. Descobri no Twitter, ou em algum lugar, que o Juggernaut era chamado de Jagannatha nos anos 70. Achei a palavra super sonora, até pelo número de as, igual ao Anori Anaga, que tem 4 as. Comecei a escrever uma música sobre isso e personifiquei o personagem. Isso tem muito a ver com MF DOOM, que é uma grande inspiração deste álbum e do Jagannatha. Decidimos homenagear o MF DOOM com a música “Jagannatha”. Na capa do single “Jagannatha”, ele está com uma roupa parecida com a do Juggernaut, se apresenta como vilão, mas aos poucos foi ganhando mais casca e atmosfera. Na verdade, ele é um herói, um anti-herói. Entendendo o que é o Jagannatha na cultura hindu, o senhor dos mundos, um deus superpoderoso, adicionamos essas características ao personagem. Saímos de uma história em quadrinhos de super-herói para um universo muito mais rico, com a inspiração hindu e o universo do pirata, que no começo eu não prestei tanta atenção, mas está no imaginário de todos. O pirata é atraente, irreverente, ousado e independente, como o Jack Sparrow ou o Luffy de One Piece. Tudo isso ajudou a dar mais texturas e camadas à história.

Qual é a mensagem principal que você espera transmitir ao público com “O Pirata e o Jaganata”?

A criação do álbum tem um subtexto de resgate do conceito do “Do It Yourself”. A Gana trouxe para nós esse conceito de inteligência pirata, algo que talvez venha desde os Inumanos comigo, de produzir pelos meios necessários. A inteligência artificial entra nisso, ajudando a bolar uma capa, criar o design dos personagens, as infinitas possibilidades de direção da história. A mensagem subentendida é que, mais do que nunca, os recursos estão na palma da nossa mão. Se você tem uma ideia, realize-a, seja usando um aplicativo, inteligência artificial, colagem, um computador velho, um microfone de brinquedo. Não deixe de botar sua ideia no mundo, porque hoje temos acesso a muitas soluções. E vale tudo, se a ideia é boa, vale tudo.

O hip-hop no Brasil tem evoluído de maneira significativa. Como você vê a atual cena do hip-hop brasileiro em comparação com a cena global?

O hip-hop brasileiro tem qualidade de nível mundial. Seja no Graffiti, no Break, nossos DJs, o Rap brasileiro tem grandes expoentes e uma longa história. Graças à tecnologia, estamos cada vez mais perto do nível de excelência de grandes centros como os Estados Unidos, França, Alemanha, Nigéria (mais pro lado do Afrobeat) ou Angola. Estamos num grande momento. O Rap tem que se conectar mais com a realidade, não podemos regular a cena pelas exceções. Tudo bem, temos alguns rappers milionários hoje, mas também temos uma cena de batalha de rima enfraquecida e empobrecida. As rodas de rima continuam sendo perseguidas pela polícia ao

redor do Brasil. Temos uma longa construção de como usufruir desse poder enorme que o hip-hop está tendo na sociedade. O movimento, que sempre foi político, está afastado das questões importantes que estão rolando. Qual é o ponto de vista do hip-hop sobre violência policial, debate sobre aborto, direitos das mulheres? Estamos passando por um momento de amadurecimento da cena para poder discutir isso.

Você já participou de jam sessions com artistas internacionais como Mos Def e Will Smith. Quais foram as principais lições que você trouxe dessas experiências para a sua música?

Com artistas internacionais, o que mais absorvi foi o valor da autenticidade, de acreditar no que você está apresentando, buscar uma conexão verdadeira com seu público, entender o seu público, e a excelência na entrega, na apresentação ao vivo, na profundidade das coisas. Às vezes você vê o cara ali, com um boné de certa marca, usando tênis de um certo jeito, ou falando certa palavra num rap, mas tudo tem uma profundidade, algo por trás. Um rap é quase um quebra-cabeça, um organograma, com várias camadas por trás de cada palavra. Fica esse aprendizado, essa gana de vencer. Isso é muito forte nos artistas internacionais, de não se conformar, de não estacionar, de sempre se reinventar, sempre adquirindo novas habilidades. Isso é fundamental.

Anaga Agbara Umehara Abboubakkar, o Jaganata, é um pirata, um andarilho, rapper e profeta.

Você vem de uma família de pesquisadores da cultura negra e encontrou sua militância no hip-hop. Como essa formação influenciou sua música e seu trabalho atual?

Sobre família, esse trabalho é totalmente relacionado a isso. Como o Jagannatha está indo buscar raízes familiares, conectar laços perdidos, isso exige manutenção diária. É para onde olho e consigo me ver, buscar força para ir para o futuro. Nesse passado, nessa herança, nesse resgate, é onde tiro a inspiração diária para viver. Quero muito que o resto da família participe nos próximos capítulos: o Jagannatha, o Rodari, a Isha, a Mina, a Iná, a galera toda. Quem sabe no deluxe tem a Akira, a Bekah também junto. A família é super importante, e esse disco fala muito desse resgate das tradições e heranças.

A Liga dos MCs e outros projetos que você criou ajudam a democratizar o acesso ao microfone. Qual é a importância desses projetos para a inclusão e a diversidade na música?

A Liga dos MCs e a Batalha do Real democratizaram o acesso ao microfone, quebraram a barreira entre o palco e o público. Surgiram muitos talentos anônimos e alguns famosos que tiveram a oportunidade de pegar no microfone pela primeira vez durante uma batalha. Esse é o maior legado que temos, democratizar o acesso das pessoas ao palco: homens, mulheres, pretos, brancos, pobres, ricos. Conseguimos trazer um pouco dessa equidade para o rap.

Aori afirma que “este álbum promete ser uma jornada épica de música, magia e aventura"
Aori afirma que “este álbum promete ser uma jornada épica de música, magia e aventura”

Em seu novo trabalho, há uma forte narrativa sobre busca e resistência. Como você conecta essas histórias com a realidade social e política dos dias de hoje?

Nesse novo trabalho, temos uma busca pelo poder da narrativa. Ele sintetiza um pouco da minha jornada, trazendo essa narrativa, esse storytelling, o rap, a desmembração do projeto em várias partes, seja na música, no vídeo, na produção de roupa. O fio é a narrativa, com propriedade. Muitas vezes estamos no mercado contando histórias dos outros, e dessa vez quis criar uma história minha, que pudesse conduzir do começo ao fim, sempre contando com a colaboração de amigos e parceiros, o que enriquece muito. Deixar a galera brincar com meus brinquedos e ver como eles voltam com as pecinhas de Lego. É uma busca pela narrativa, pela apropriação, apoderamento e pertencimento da narrativa. Quase criar uma franquia nossa. No hip-hop brasileiro, temos astros, mas ainda não temos uma cadeia de lojas de roupas, uma gravadora 100% preta, uma casa de show. O intuito com o Jagannatha é criar uma franquia nossa, que possa inspirar nosso povo e ajudar a contar nossas histórias.

A música mudou drasticamente com o advento das plataformas de streaming e redes sociais como o TikTok. Como você avalia essas mudanças no consumo e na produção musical?

Sou de uma geração que sempre viveu no redemoinho das mudanças tecnológicas. Meu primeiro álbum foi prensado em CD, o que era difícil e caro. Às vésperas do lançamento, surgiu o Napster, o selo que ia nos lançar praticamente foi à falência, e ficamos com os CDs parados por muito tempo. Não sabíamos se colocávamos na internet ou não. Sempre vimos essas reviravoltas. Ao mesmo tempo, é uma geração que, quando o Spotify apareceu, já estava madura, mas talvez não tenha aproveitado o melhor momento de crescimento como a galera mais nova. Tecnologias vêm e vão, mas a verdade na música prevalece, é uma construção longa.



De que maneira você tem utilizado essas plataformas para promover seu trabalho e se conectar com seu público?

Uso muito meu Instagram e o Spotify também ajuda, mas pensamos em estimular a conexão direta com os fãs. Queremos entender como fazer a música chegar às pessoas além dos algoritmos. Desejamos construir essa comunicação direta, sem filtro, sem depender de ninguém.

Você já trabalhou com produtores renomados como Mario Caldato Jr. e Disco D. Como essas colaborações influenciaram o desenvolvimento do seu som e a criação do novo álbum?

Nessa estrada, já trabalhei com gente muito boa como Damian Sete, Mário Caldato, Nave, todos os produtores que deixaram sua marca em mim de alguma maneira. Essa pluralidade do som e das referências está refletida nesse mix que vemos no Jagannatha. Acho que é uma amostra madura da consolidação de todos os meus “eus”, todos os gostos e interesses, consolidando num momento bem maduro. Acho que é um dos meus melhores trabalhos. Enquanto o disco dos Inumanos tinha aquela fagulha inicial e busca incessante pela tecnologia e subversão, o Jagannatha conta uma história bem construída, com um universo mais expandido e detalhado que o dos Inumanos.

Na verdade, vejo tudo como um universo. Sou um Stan Lee ou um Akira Toriyama preto. Nesse multiverso, encontramos o Jagannatha, os Inumanos, o Anaga, a Batalha do Real, a Liga dos MCs. Na minha cabeça, isso tudo faz parte de um mundo só. Agora, a tarefa é desenhar isso, apresentar ao público e convidar a galera a emergir nesse mundo.

"Este álbum é um tributo ao nosso amor por contar histórias através da música e explorar novos mundos", conta Aori.
“Este álbum é um tributo ao nosso amor por contar histórias através da música e explorar novos mundos”, conta Aori.