Estados Unidos da África é um projeto desenvolvido em parceria entre o escritor baiano Anderson Shon e o ilustrador Daniel Cesart. A obra, que une elementos de prosa e quadrinhos, narra a história de Rei Bantu, um super-herói criado a partir da pergunta provocativa: “E se a África fosse um país?”. A narrativa, que se desdobra no imaginário de um continente unificado, tem como eixo central a luta contra injustiças sociais, o racismo e a exploração econômica, elementos que perpassam a experiência histórica da África e da diáspora africana.
No enredo, Serge Ekondo, o protagonista, é transformado em Rei Bantu, um herói dotado de habilidades sobre-humanas: força extraordinária, resistência a balas, capacidade de voo e a habilidade de aquecer objetos até derretê-los. Essas características fazem de Bantu um símbolo de resistência e poder diante de um cenário de opressão. Ao longo da história, ele se depara com adversários que refletem as realidades políticas e econômicas enfrentadas pelo continente africano, como corporações envolvidas em trabalho escravo, grupos racistas e até uma tentativa de ataque terrorista.
A obra se distingue por não se limitar a uma simples narrativa de aventura. Estados Unidos da África explora temas como racismo, exploração e a ideia de unificação política, propondo uma reflexão sobre a história e o futuro do continente. Essa abordagem faz da obra um importante instrumento para a compreensão das dinâmicas sociais e políticas que afetam a África e a diáspora africana.
Um dos aspectos notáveis do projeto é seu compromisso com a representação cultural. A narrativa é repleta de referências a artistas e pensadores negros, integrando a história de Rei Bantu a um contexto mais amplo de produção cultural e intelectual afrodescendente. Isso oferece aos leitores não apenas uma aventura, mas também um mergulho na cultura e nas questões que moldam a identidade negra contemporânea.
Estados Unidos da África também tem um impacto educacional significativo. A obra foi adotada como material didático em escolas da Bahia, onde serve como base para discussões sobre o continente africano, a diáspora, e os desafios sociais e políticos que essas comunidades enfrentam. Essa adoção reflete a relevância do projeto como uma ferramenta pedagógica, capaz de fomentar debates críticos sobre temas muitas vezes marginalizados no currículo escolar.
A primeira edição da obra foi lançada em 2023, financiada por meio de uma campanha de sucesso na plataforma Catarse. A resposta positiva do público à campanha indica uma demanda por narrativas que reimaginem a África e o papel dos heróis negros em um contexto global. Atualmente, a parceria com a Bebel Books visa expandir o alcance de Estados Unidos da África, levando a história de Rei Bantu a um público ainda maior.
Este projeto, ao propor uma reflexão sobre o que significaria uma África unificada e liderada por um super-herói, abre espaço para discussões mais amplas sobre identidade, poder e resistência. A narrativa de Rei Bantu, ao mesmo tempo que entretém, convida os leitores a reconsiderar suas percepções sobre o continente africano e a diáspora, oferecendo uma nova perspectiva sobre o que poderia ser um futuro coletivo pautado pela justiça e pela igualdade.