Foi em meio a uma tempestade particular que Priscila de Jesus escreveu Trovoada, seu livro de estreia. A obra é um convite à introspecção e ao entendimento profundo das emoções humanas, quebrando qualquer conceito de que poesias abordam temas apenas lúdicos e amenos. Esta obra é densa, carregada de significados, e cada página apresenta ao leitor uma peça deste complexo quebra-cabeças que é a vida de Priscila — e de milhões de brasileiros. Estão lá temas como depressão, violência policial, enchentes, o sobreviver e o não viver. E, de camada em camada, fez-se uma potência.
Foi em apenas dois meses que os 70 poemas foram escritos, impulsionados por uma sensação de sufocamento. Embora o livro não aborde exclusivamente a dor, grande parte do conteúdo reflete mazelas que, segundo a autora — de 36 anos, que cresceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense— não deveriam existir.
O amor pela leitura é uma herança de sua mãe, Ivani de Jesus, que saiu de Itabuna, na Bahia, em busca de uma nova vida como camelô e trabalhadora doméstica. Graças a ela, Priscila rompeu caminhos antes fechados para a família. Hoje cursa Pedagogia na UERJ, em um polo da Baixada, e vê na educação o único meio possível de transformação.
A obra de Priscila de Jesus, publicada através da Bolsa Voante, uma iniciativa da Editora Voante que apoia novos autores, destaca-se não apenas pela sinceridade emocional, mas também pela sua relevância social, abordando temas que ressoam tanto em nível pessoal quanto coletivo. Com uma habilidade notável de navegar pelas águas turbulentas da existência, Priscila conduz o leitor por uma jornada de enchentes sentimentais e alvoreceres de esperança. A obra é um dos primeiros livros da editora lançada pela roteirista Manuela Dias, responsável por obras como as novelas “Amor de mãe” e a nova versão de “Vale Tudo”.
“‘Trovoada’ fala sobre uma perspectiva pessoal, mas também de uma perspectiva coletiva, sobre as camadas que nos sufocam, sobre aquilo que nos atravessa quando estamos falando de violências territoriais, de crises climáticas, mas não só isso. Quando estamos falando também de amor, de dor, de sonhos e, inevitavelmente, tudo aquilo que nos interrompe de ser a nossa melhor versão, de descobrir a nossa pior versão e assim, quem sabe, ultrapassá-la,” revela a autora, conhecida como Oprah da Baixada, por seu trabalho como empreendedora, palestrante e educadora popular, focada em criar estratégias para reduzir a linha de escassez na vida de pessoas negras e periféricas, sobretudo mulheres.
“Trovoada” é, sem dúvida, um convite à introspecção e ao entendimento profundo das emoções humanas, oferecendo uma janela para as experiências de vida que muitas vezes são invisíveis, mas profundamente ressonantes.
