Quando Michel Alcoforado decidiu se tornar antropólogo aos 15 anos, sua escolha intrigou sua avó, que não sabia como explicar essa profissão para suas amigas. Com uma definição rápida, ela resumiu a essência do trabalho de Michel: “a pessoa que explica o que ninguém está entendendo”. Essa frase se tornou o lema da vida de Alcoforado, que se dedicou a decifrar o mundo ao seu redor e a compreender como a cultura molda a dinâmica de civilizações, sociedades, países, cidades, bairros e até mesmo famílias. Para Michel, “Nós somos produto dos contextos culturais nos quais vivemos, mas também somos agentes da invenção e da transformação da cultura.”
O resultado dessa busca incessante por compreender e explicar o mundo pode ser encontrado em seu livro De tédio ninguém morre. A obra é uma coletânea de crônicas escritas por Alcoforado entre 2018 e 2023, publicadas no UOL. Ao longo de cinco anos, suas colunas traduziram acontecimentos globais de forma acessível, revelando as nuances de culturas tão distintas quanto a brasileira, a coreana, a europeia e a indiana.
O livro é dividido em cinco capítulos temáticos, organizados não em ordem cronológica, mas por temas que exploram diferentes aspectos culturais. Em O acelerador de partículas culturais, Alcoforado analisa a reação ao vírus e à pandemia da Covid-19. No capítulo A consolidação da tecnocultura, ele explora como a vida digital está moldando as sociedades modernas. Em Mapas culturais, Michel decifra como determinados acontecimentos refletem a vida de diferentes países. Das gerações foca nos diferentes comportamentos e como eles se influenciam mutuamente. Por fim, em Operação da diferença, o autor aborda as diferenças de classes sociais e a cultura de cada um, oferecendo uma análise perspicaz sobre as divisões sociais no Brasil.
Um trecho particularmente impactante do livro destaca a crítica de Michel à lógica hierárquica da sociedade brasileira. Ele discute como, em um país onde os privilégios são frequentemente reservados aos já privilegiados e a exclusão é ampliada para os excluídos, o simples ato de comprar um pacote de serviços de luxo para o parto se torna um gesto de distinção social. Em suas palavras, “Aqui, é preciso dar tudo a quem tudo terá — do primeiro ao último dia de vida.”
Michel Alcoforado nasceu no Rio de Janeiro em 1986 e é Doutor em Antropologia Social. Nos últimos anos, tem se dedicado a estudar o cotidiano das elites brasileiras, o impacto da cultura no consumo e as transformações impostas pela tecnologia nas formas de viver. Com um compromisso firme de levar a Antropologia para além dos muros acadêmicos, Michel é o criador e apresentador dos podcasts É tudo culpa da cultura e CaosCast. Além disso, ele é comentarista na Rádio CBN e atua como consultor para grandes empresas, sempre com a missão de tornar a Antropologia acessível e relevante para a compreensão das complexidades do mundo contemporâneo.
O trabalho de Michel Alcoforado não apenas explica o que muitos não conseguem entender, mas também lança luz sobre as forças culturais que moldam nossa sociedade, desafiando-nos a pensar criticamente sobre o mundo em que vivemos.
