26.07.2024 Ícone da categoria

Nayri: voz afrofuturista da nova música brasileira

A multiartista baiana Nayri lança seu primeiro single, "Mergulho", vencedor do Prêmio Luiz Melodia, que mistura poesia romântica e afrofuturismo.

Nayri: voz afrofuturista da nova música brasileira Foto: Lane Silva

No vibrante cenário musical da Bahia, uma nova estrela está emergindo com força e originalidade. Nayri, uma multiartista baiana, lançou seu primeiro single, “Mergulho”, que já conquistou o prestigiado “Prêmio Luiz Melodia de Canções Afro-brasileiras”, promovido pela Fundação Cultural Palmares (FCP). O single chegou às plataformas no dia 26 de julho e deve encantar os ouvintes com sua fusão de poesia romântica e afrofuturismo, entrelaçando influências de R&B, Neo Soul, Afropop e MPB.

Nayri, além de cantora e compositar, também escritora, poeta, multi-instrumentista, modelo, atriz, curadora, pesquisadora das ciências sociais, arte-educadora e produtora cultural. Sua trajetória artística é marcada por uma profunda conexão com as palavras, que ela utiliza para dar nome aos sentidos e expressar suas emoções mais intensas. “Mergulho é mais do que uma simples canção, é um convite para um mundo onde o amor se entrelaça com a história e a ancestralidade”, destaca Nayri.

Com uma letra poética que celebra a pele negra, a lua, o sol e as águas do mar, “Mergulho” transporta o ouvinte para um lugar de contemplação e emoção. Versos como “Você é o interlúdio entre o amanhecer e o fim da tarde / Entre a mata e o oceano” evocam imagens vívidas que ressoam com a essência da cultura afro-brasileira. “A letra poética captura a intensidade e a beleza de um relacionamento, através de metáforas que evocam a natureza e a urbanidade brasileira”, acrescenta a artista.

Sobre seu processo criativo, Nayri comenta: “A arte sempre foi um motivador pra mim e o meu primeiro contato com ela foi através da escrita da poesia. Eu escrevia poesia para descrever os meus sentimentos e a partir delas criava as melodias no violão e no piano.”

A seguir, confira a entrevista exclusiva que fizemos com Nayri:

Nayri, você é uma multiartista que transita por diversas formas de expressão, desde a música até a poesia e o teatro. Como essas diferentes facetas da sua arte se encontram e se influenciam no single “Mergulho”?

A arte sempre foi um motivador pra mim e o meu primeiro contato com ela foi através da escrita da poesia. Eu escrevia poesia para descrever os meus sentimentos e a partir delas criava as melodias no violão e no piano. Mais tarde, quando comecei a recitar as poesias nos coletivos urbanos, eu também levei a interpretação teatral como uma ferramenta de conexão com as pessoas. Eu assistia filmes, participava de saraus de poesia e abraçava as diversas linguagens artísticas para apresentar uma identidade artística mais completa. Em Mergulho, eu produzo, canto e atuo e esses aprendizados vieram das experiências que tive através da troca com outros artistas e com cursos de teatro e de música.

Foto: Juh Almeida
Foto: Juh Almeida

“Mergulho” traz uma perspectiva afrofuturista e celebra elementos da cultura afro-brasileira. Quais foram suas principais inspirações ao criar essa canção, e como você vê o papel do afrofuturismo na música contemporânea?

Mergulho é a junção de uma poesia que eu havia escrito em 2021 e uma música que escrevi em 2023. Eu me lembro de sair da Casa do Hip Hop em Salvador e ir até o Museu de Arte Moderna solfejando a letra na minha mente. Lembro-me de sentar em frente ao mar e começar a cantá-la. “Vento solar, água do mar. Eu quero amar você” surgiu de uma forma muito orgânica porque eu representei o ambiente em que estava com a lembrança de um amor preto e com a perspectiva de invenção de um futuro no qual os meus sonhos se realizam. Na época, a composição era apenas uma narrativa que poderia vir a se realizar, que eu gostaria que se realizasse, mas que ao mesmo tempo ainda estava no campo da fantasia, como eu trago no verso: “sonho que faz meu existir, meu elixir. Sede que mata você aqui.”

A poesia é um elemento central em “Mergulho”, com versos que evocam a natureza e a ancestralidade. Como foi o processo de composição dessa letra, e quais mensagens você espera transmitir ao público através dela?

Compor Mergulho foi um processo bastante natural. A poesia surgiu da minha vivência pela cidade de Salvador, da lembrança dos bairros que caminhei: Ribeira, Rio Vermelho, Ondina, Dique do Tororó e em como a cada passo, um bairro conta uma história. Uma história de amor, de amizade, de conexão com a espiritualidade e de felicidade. E são estes os elementos que eu desejo transmitir para o público.

O Prêmio Luiz Melodia de Canções Afro-brasileiras é uma conquista significativa. Como essa premiação impactou sua carreira e quais portas você acredita que ela poderá abrir para futuros projetos?

Ser premiada no Luiz Melodia foi uma grande conquista pra mim porque antes dele eu tinha o desejo de cantar, de me lançar como cantora, mas o medo de dar errado, a insegurança era algo que me paralisava. Eu colocava o sonho de cantar em uma caixinha no guarda-roupas e ia estudar ciências sociais, trabalhar de garçonete para pagar as contas. Depois que eu gravei Mergulho e fui premiada com a composição eu pensei: então, este de fato pode ser o meu caminho e esse caminho me traz felicidade. E o maior impacto que este prêmio teve pra mim foi o fato de olhar pra minha arte com amor e acreditar nela, acreditar em mim como uma potência e não desistir de investir nos meus sonhos. Além disto, eu também fiz diversas conexões. As pessoas não me conheciam somente como Nayri, produtora, pesquisadora, arte educadora, modelo, atriz, mas também como Nayri cantora. Sei que a minha carreira como cantora ainda está em construção, mas eu acredito que a partir do primeiro passo que eu dei, o caminho se fez e ele me trouxe muitas coisas bonitas, como por exemplo a produção do vídeo clipe da composição Mergulho.

Foto: Juh Almeida
Foto: Juh Almeida


Além da música, você tem uma carreira extensa como modelo, atriz, curadora e educadora. Como essas experiências diversificadas contribuíram para o desenvolvimento da sua identidade artística e influenciaram a produção de “Mergulho”?

Eu sempre gostei de estudar e também sou determinada nos meus objetivos. Apesar de ainda não ter me lançado como cantora eu buscava estratégias que pudessem me deixar mais próxima da música. A produção cultural me fez entender os processos que acontecem no backstage, como acessar as pessoas e fazer conexões. Ser assistente de câmera me possibilitou um olhar mais amplo e artístico para o que eu busco na minha arte, o que eu me identifico, quais elementos eu insiro e fazem parte da minha identidade visual. Ser modelo e atriz me ensinou a sentir e a interpretar os sentidos para que outras pessoas também possam ver a partir dos meus olhos. Atuar como curadora me fez pesquisar outros artistas, ir a show, escutar música, ler poesia e aprender sobre técnica. Trabalhar como roadie me ensinou o que é preciso ter em um palco. Ser educadora me ensinou e me ensina que só o conhecimento pode me levar a alçar voos altos.