Normalmente aproveito este espaço para convidar pais e mães a criarem conexões verdadeiras com seus filhos por meio dos filmes e animações que pipocam em nossas mídias. É comprovado que a conexão entre crianças e adultos traz benefícios para todos, em uma relação tripartite de ganha-ganha-ganha: ganha a criança, que reconhece nos adultos uma fonte de segurança e acolhimento; ganha o adulto, que estabelece uma relação de confiança e com as crianças; e ganha a sociedade como um todo, que usufrui de melhores cidadãos e cidadãs na construção de bases mais humanas e conscientes para o mundo que nos cerca.
Hoje quero dividir uma das pesquisas mais abrangentes e sensíveis que li recentemente — tendo como objeto de estudos um grupo que, normalmente, não obtém o protagonismo no mundo acadêmico: Meninos.
O estudo Meninos: Sonhando os homens do futuro foi produzido pelo Instituto Papo de Homem, em parceria com o Pacto Global da ONU e com o apoio da Natura (é importante nomear quem oferece suporte para que mais iniciativas como esta tomem forma), foi apresentado em agosto de 2023, mas desde então vem se multiplicando em análises mais profundas, segmentando suas pesquisas em públicos-alvo mais focados.
O material trouxe à luz dados muito pertinentes da nossa sociedade atual e futura, hora de forma preocupante, hora de forma esperançosa. Convido você, querida leitora e querido leitor, a se aprofundar mais e melhor no material compilado assim que terminar o meu texto!
Sobre amor e rede de apoio
Entre outros insights, a pesquisa mostra – e talvez este seja o principal dado a nos centrarmos em nossas análises – que 5 em cada 10 garotos entre 13 e 17 anos não sabem se são amados pelos seus pais, ao passo que a mesma relação percentual de adultos responsáveis por estes jovens não tem uma rede de apoio com quem contar e compartilhar seus medos e receios na criação de meninos adolescentes. Destaquei inicialmente estes 2 dados pois mostram como as inseguranças na criação de meninos são sentidas em ambas as pontas (dos próprios meninos e daqueles que são responsáveis por direcioná-los na formação de futuros adultos).
A forma como eles são e se sentem amados hoje pode refletir na forma como eles amarão suas parceiras e parceiros futuramente. No mesmo estudo, em um dos recortes específicos para jovens negros, foi constatado que 7 em cada 10 meninos negros querem aprender a tratarem meninas e mulheres com mais respeito, número que aumenta para 9 em cada 10 respondentes que concordam que um homem deve sempre respeitar quando uma mulher diz não.
Aqui podemos perceber claramente como a influência — seja positiva ou negativa — transforma vidas, envolvidas ou não, na criação desses meninos. Um pai ou uma mãe que insere valores e princípios de forma verdadeira na vida de um menino hoje está ajudando a extirpar o mal do feminicídio no futuro (lembrando que as taxas de tal crime aumentam consideravelmente no Brasil ao passar dos últimos anos).
Para além de nos preparar para o futuro, este estudo é um grande exercício de escuta ativa, que nos permite conhecer a fundo os anseios e inseguranças dessa parcela, por muitas vezes silenciada, de nossa demografia. Destaco principalmente o relatório Meninos negros: Perspectivas e Sentimentos, que é de uma riqueza inquestionável no objetivo de conhecer os garotos que, sejam atualmente pu no futuro, mais sofrem com estigmas relacionados à autoestima, violência urbana, letalidade policial e taxas de depressão e suicídio.
Seja você uma pessoa, responsável ou não, por garotos nessa faixa de idade, deixo o convite: conheça o trabalho desenvolvido ao longo do estudo e vamos transformar os dados coletados em informações e ações tangíveis em prol de todos: dos nossos meninos, que serão nossos homens e que influenciam com suas ações, toda a nossa sociedade.