09.01.2025 Ícone da categoria

Protagonismo negro no cinema

Alê e Garcia e Andreza Delgado debatem a representação e inclusão negra no audiovisual em podcast da PerifaCon.

Protagonismo negro no cinema

O protagonismo negro no cinema é um tema central na discussão sobre representação e inclusão no audiovisual. No podcast do Portal PerifaCon, Andreza Delgado, cofundadora do evento que é conhecido como a “Comic Con da Favela”, conversou com o CCO da Casablack, Alê Garcia, sobre o tema. Esse papo trouxe à tona a importância de analisar o passado, o presente e o futuro das narrativas negras no cinema, abrangendo desde os estereótipos históricos até as recentes transformações da indústria.

O que é a PerifaCon?

Criada em 2019, a PerifaCon nasceu com o objetivo de democratizar o acesso à cultura geek e pop para as comunidades periféricas. O evento foi idealizado por Andreza Delgado e outros jovens negros, que perceberam a falta de inclusão das periferias em convenções tradicionais. Mais do que um evento de cultura pop, a PerifaCon é um movimento social e cultural que conecta artistas, produtores e o público das favelas, promovendo a diversificação de conteúdo e oportunidades.

Andreza Delgado, criadora de conteúdo e uma das fundadoras da PerifaCon.

Andreza Delgado é uma das principais vozes por trás da PerifaCon e também atua como apresentadora e criadora de conteúdo. Seu trabalho é um exemplo claro de como a ocupação de espaços culturais por pessoas negras pode transformar narrativas e criar novos horizontes de representação.

Quem é Alê Garcia?

Alê Garcia é escritor, criador de conteúdo, palestrante e publicitário. Reconhecido como um dos 20 creators negros mais inovadores do país pela Forbes, Alê também é autor do podcast “Negro da Semana”, onde narra histórias de personalidades negras que impactaram o mundo. Em suas palavras, o podcast é uma “enciclopédia sonora” que busca resgatar narrativas negligenciadas pela história oficial. Alê também desenvolve conteúdo que conecta cultura pop, cinema e literatura afrocentrada, sempre com um olhar crítico e profundo. Em 2024, criou a Casablack ao lado de Gil Viana.

No podcast do PerifaCon, Alê trouxe um panorama histórico sobre o protagonismo negro no cinema, explorando desde o cinema mudo dos anos 1920 até o impacto de produções contemporâneas como Corra! e Pantera Negra.

Co-fundador da Casablack, Alê Garcia é uma autoridade em cinema, séries e cultura sob a lente negra.

Um Olhar Histórico sobre o Cinema Negro

A discussão sobre cinema negro não pode ignorar suas raízes. Alê Garcia destacou que, antes de Corra! e de Jordan Peele, o cinema negro norte-americano passou por diferentes fases. Nos anos 1920, cineastas como Oscar Micheaux criaram filmes para comunidades negras, retratando a realidade e os desafios da época. Por outro lado, Nascimento de uma Nação (1915), um marco do cinema mundial, perpetuou estereótipos racistas ao utilizar blackface e narrativas que glorificavam a supremacia branca.

Nos anos 1970, o movimento blaxploitation trouxe um olhar ambivalente. Filmes como Superfly e Shaft deram protagonismo a personagens negros, mas frequentemente reforçaram estereótipos. Apesar disso, essas produções pavimentaram o caminho para diretores como Spike Lee, que em 1989, com Faça a Coisa Certa, revolucionou o cinema com uma narrativa autêntica e contundente sobre as tensões raciais nos EUA.

Cinema Negro no Brasil

Alê também destacou as especificidades do cinema negro no Brasil. Enquanto nos EUA o movimento blaxploitation teve grande visibilidade, aqui o cinema negro enfrentou desafios distintos. Filmes como Branco Sai, Preto Fica e M8 – Quando a Morte Socorre a Vida, dirigidos por cineastas como Adirley Queirós e Jeferson De, exploram a violência policial, o racismo estrutural e a subjetividade negra.

A representação na televisão também foi tema. Alê destacou avanços recentes, como as três novelas da Globo com protagonistas negros, e a importância de roteiristas e diretores negros para transformar narrativas e abrir espaço para novas histórias.

As diversas produções do cinema negro mundial foram discussão no podcast.

Representação Imagética e Controle Narrativo

Andreza e Alê discutiram como a imagem negra foi moldada ao longo do tempo. “Você não pode ser aquilo que não pode ver”, disse Alê, citando a ativista Marian Wright Edelman. A representação é crucial para que as pessoas negras possam imaginar futuros diferentes. Nesse contexto, o trabalho de diretores como Barry Jenkins (Moonlight), Jordan Peele (Corra!) e Ryan Coogler (Pantera Negra) foi elogiado por sua capacidade de capturar a pele negra de maneira respeitosa e esteticamente inovadora.

Indústria e Protagonismo

O podcast também abordou a necessidade de fortalecer a indústria. Alê citou iniciativas como a Tyler Perry Studios, cujo complexo de estúdios aluga espaços para a filmagem de grandes produções da Disney, e o impacto de produções mainstream com protagonismo negro, como Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. “Quando o dinheiro fala mais alto, muita coisa muda”, ressaltou.



Caminhos para o Futuro

O protagonismo negro no cinema é uma construção coletiva. Tanto Andreza Delgado quanto Alê Garcia enfatizaram que, para avançar, é fundamental investir em formação, produção e distribuição de narrativas negras. Alê destacou que iniciativas como a PerifaCon são essenciais para criar espaços onde artistas possam se ver, se reconhecer e inspirar novas gerações.

Em tempos de retrocessos e desafios, discutir o protagonismo negro no cinema não é apenas urgente, é uma forma de resistência e criação de um futuro mais inclusivo.