08.09.2024 Ícone da categoria

“Rebel Ridge” é Aaron Pierre contra um sistema corrupto

Em meio a uma trama de corrupção policial, o protagonista enfrenta desafios morais e físicos em novo filme de Jeremy Saulnier.

“Rebel Ridge” é Aaron Pierre contra um sistema corrupto

O ator britânico Aaron Pierre tem se destacado como uma das grandes promessas do cinema contemporâneo, especialmente após sua atuação no filme Rebel Ridge, dirigido por Jeremy Saulnier. O longa da Netflix, que mergulha nas profundezas da corrupção policial no sul dos Estados Unidos, destaca a injustiça racial e as consequências brutais de um sistema que transforma leis em armas. Neste thriller cheio de nuances, Pierre interpreta Terry Richmond, um ex-fuzileiro naval, cuja jornada para resgatar seu primo de uma sentença de morte iminente é prejudicada por forças corruptas. Ao longo da trama, Pierre se destaca com uma performance intensa e cheia de camadas, solidificando sua posição como uma das estrelas emergentes mais promissoras de sua geração.

Aaron Pierre, nascido em 1994 e formado pela London Academy of Music and Dramatic Art (LAMDA), já havia conquistado o público com papéis notáveis como Dev-Em na série Krypton e Caesar em The Underground Railroad, de Barry Jenkins. Sua carreira continuou a florescer com papéis em Old, de M. Night Shyamalan, e no premiado Brother, pelo qual ganhou o Canadian Screen Award. E ele entrega, em Rebel Ridge, uma atuação memorável, destacando-se pela habilidade de equilibrar desespero e determinação, elementos essenciais para o sucesso de seu personagem em meio à podridão de uma pequena cidade dominada por autoridades corruptas.

Trama complexa de corrupção e racismo

O enredo de Rebel Ridge gira em torno de Terry Richmond, que tenta desesperadamente pagar a fiança de seu primo Mike, preso sob uma acusação menor de posse de drogas. No entanto, o verdadeiro perigo não está na acusação, mas na iminente transferência de Mike para uma prisão estadual, onde sua vida está em risco por ter sido testemunha em um caso de assassinato envolvendo gangues. Com o dinheiro da fiança em mãos, Terry é abruptamente interrompido por policiais corruptos que, usando o pretexto de civil asset forfeiture, confiscam seus bens sob alegações falsas. Esse conceito de apreensão de bens sem condenação criminal é legal, mas o filme destaca como a prática é frequentemente usada para oprimir as comunidades negras e marginalizadas nos Estados Unidos.

A cidade de Shelby Springs é um microcosmo das complexidades da corrupção no policiamento moderno. Como Rebel Ridge sugere, as práticas policiais não foram reformadas; ao contrário, evoluíram para formas mais insidiosas e ocultas. O filme também explora a relação entre a violência e a manipulação emocional, exemplificada pelo uso de figuras vulneráveis, como mães solteiras, para perpetuar o sistema de opressão. Essa crítica é reforçada por um humor sombrio, típico dos filmes de Saulnier, que ajuda a suavizar as tensões da trama e a tornar o filme mais acessível.

Grande performance de Aaron Pierre

Pierre brilha como Terry, um personagem que tenta, a todo custo, evitar o confronto, mas que, quando forçado, se transforma em uma força imparável. Terry é um ex-fuzileiro naval com habilidades extraordinárias de combate, resultado de seu treinamento como instrutor de artes marciais no Corpo de Fuzileiros. Para o papel, Pierre passou por um extenso treinamento em jiu-jitsu brasileiro, uma habilidade essencial nas cenas de luta, que são coreografadas com um realismo brutal. Sua fisicalidade e presença em cena são impressionantes, mas é o controle emocional que realmente eleva sua atuação. O olhar calculado, a postura contida e a explosão controlada quando a situação exige tornam Terry um protagonista intrigante e memorável.

O equilíbrio que Pierre traz ao papel — entre desespero e resistência — é o que faz sua performance ser tão marcante. Terry está lutando contra forças muito maiores do que ele, tanto fisicamente quanto moralmente, mas nunca deixa que o sistema o quebre completamente. A performance de Pierre é uma aula de contenção e vulnerabilidade, e suas cenas de ação são de tirar o fôlego. A cada golpe, ele traz à tona a complexidade de um homem que tenta desesperadamente sobreviver e proteger sua família.

Corrupção moderna

O elenco de apoio em Rebel Ridge também merece destaque, especialmente Don Johnson, que interpreta o chefe de polícia Sandy Burnne. Johnson, com uma carreira que inclui papéis icônicos em Miami Vice e Knives Out, oferece uma performance cínica e ameaçadora, encapsulando a impunidade e o abuso de poder. Sua presença na tela é o perfeito contraponto ao personagem de Pierre, representando o mal burocrático que Terry enfrenta.

AnnaSophia Robb, como Summer, uma aspirante a advogada que tenta ajudar Terry, traz uma energia mais leve e moral ao filme, servindo como a voz da razão em meio ao caos. Emory Cohen também se destaca como um dos policiais que representam a podridão sistêmica que permeia Shelby Springs. Esses personagens servem como peças importantes na complexa teia de corrupção que o filme desvela, mas é Pierre quem guia a trama com sua presença carismática e intensa.

Desafios da Trama

Saulnier é um mestre em construir tensão, e os primeiros 60 minutos de Rebel Ridge são absolutamente eletrizantes. O ritmo, a construção dos personagens e a crescente sensação de perigo mantêm o público engajado. No entanto, é inegável que o filme perde um pouco de seu fôlego no meio. A trama se complica com questões administrativas e legais que, embora importantes para o contexto do filme, podem afastar parte da audiência que espera um thriller de ação mais direto.



Ainda assim, é essa profundidade que faz Rebel Ridge valer a pena. Sim, o filme pode se perder um pouco na complexidade da burocracia e dos detalhes do sistema legal corrupto, mas para aqueles que se permitirem mergulhar nesse enredo intrincado, a recompensa é grande. As cenas finais, em especial, são um espetáculo de ação bem coreografada, onde Terry finalmente usa suas habilidades para desmantelar o que resta da força policial corrupta. É um clímax satisfatório que recompensa a paciência e o investimento emocional do público.

Um Futuro Brilhante para Aaron Pierre

No fim das contas, Rebel Ridge é um filme que equilibra ação e crítica social de forma muito bem construída. Mesmo com alguns momentos de lentidão, o filme brilha graças à direção precisa de Saulnier e, acima de tudo, à ótima performance de Aaron Pierre. Sua capacidade de transmitir tanto força quanto vulnerabilidade faz dele um ator a ser observado nos próximos anos. Com papéis futuros em filmes como Mufasa: The Lion King e outros projetos aguardados, Pierre está apenas começando a explorar seu vasto potencial.

Rebel Ridge é uma obra que exige paciência, mas que oferece grandes recompensas para aqueles que mergulharem em sua trama complexa. E Aaron Pierre, sem dúvida, é o ator que guia o público através dessa jornada, entregando uma grande performance. Certamente, mais uma das muitas que virão.