Na confluência da cultura periférica com as estratégias comerciais de marcas globais, surge um dilema contínuo: quem de fato lucra com a estética periférica? A ascensão do estilo dos funkeiros de São Paulo, por exemplo, ilustra um padrão de apropriação cultural, onde marcas capitalizam em cima de imagens e modos de vida periféricos sem oferecer benefícios reais para essas comunidades.
Outro exemplo disso é o jogo Fortnite, fenômeno que entre 2020 e 21 gerou R$ 48 bilhões em receita, incorporou uma versão futurista de São Paulo em seu universo, empregando elementos culturais da periferia como parte de seu cenário.
Paralelamente, a moda associada ao funk paulista ilustra outra faceta dessa exploração. Marcas como Lacoste e Oakley que foram catapultadas à fama na periferia através das letras de funk que exaltam o consumo de seus produtos, se beneficiam da visibilidade proporcionada por estas comunidades enquanto se distanciam das mesmas quando associadas a uma imagem negativa.
Além disso, a emergência do #Brazilcore como um fenômeno de moda global, destacando-se pelo uso das cores da bandeira brasileira e acessórios típicos dos anos 2000, levanta questões similares. Pouco se discute sobre como essa tendência poderia efetivamente beneficiar as pessoas que vivem a realidade retratada por essa estética.
Ninguém quer ser favelado, mas também não querem deixar de lucrar com a nossa imagem
O impacto dessa dinâmica vai além do mercado de consumo e toca em questões de responsabilidade social corporativa. As marcas envolvidas frequentemente falham em criar programas de formação, investir em espaços culturais ou contribuir de maneira sustentável para o desenvolvimento econômico das áreas cujas culturas estão sendo exploradas perpetuando a marginalização.
Diante deste cenário, é imperativo questionar e desafiar as práticas das grandes marcas. A valorização da estética periférica deveria ir além do superficial e buscar uma inclusão que promova melhorias tangíveis para as comunidades representadas. Somente assim poderemos começar a responder à questão crucial: quem realmente lucra com a estética periférica? Se as marcas continuam a lucrar enquanto as comunidades permanecem sem suporte, a resposta pode ser mais crítica do que celebratória.