Anunciada pelo Metropolitan Museum of Art, “Superfine: Tailoring Black Style” (“Impecável: a confecção do estilo negro”) será a próxima exposição do Costume Institute, examinando a importância do vestuário e do estilo para a formação das identidades negras na diáspora atlântica.
É a primeira vez desde 2003, com “Men in Skirts”, que uma exposição do Costume Institute foca exclusivamente na moda masculina, além de ser a primeira sob a curadoria de Andrew Bolton a envolver uma curadora convidada. Monica Miller, professora e chefe de Estudos Africanos na Barnard College, Columbia University, irá explorar a figura do dandy negro desde suas primeiras representações na arte do século 18 até as representações modernas nas passarelas e no cinema. A exposição é inspirada em seu livro de 2009, Slaves to Fashion: Black Dandyism and the Styling of Black Diasporic Identity, no qual ela estabelece o dandyismo negro como um constructo estético e político.
Para quem não conhece, o dandyismo é uma atenção exuberante ao vestir-se. Monica Miller descreve o dandyismo negro como “uma estratégia e uma ferramenta para repensar a identidade, para reimaginar o eu em um contexto diferente. Para realmente empurrar limites—especialmente durante o período da escravidão, para desafiar quem e o que conta como humano”. A história do dandyismo negro que a exposição visa mostrar é como os negros transformaram a experiência de serem estilizados como mercadorias de luxo em uma afirmação de autonomia e tendência global.
Com a ascensão do movimento Black Lives Matter, o Costume Institute passou a reconhecer as realidades negligenciadas pelas narrativas tradicionais da moda americana. Desde 2020, cerca de 150 peças de designers BIPOC (Black, Indigenous, and People of Color ou Negros, Indígenas e Pessoas de Cor) foram adquiridas e algumas delas estarão presentes em “Superfine”. Andrew Bolton afirmou que a exposição marca um passo importante para diversificar as coleções e exposições do Met, fazendo da moda um portal de acesso e inclusão.
Uma das grandes inspirações do trabalho de Miller é o ensaio “The Characteristics of Negro Expression” de 1934, de Zora Neale Hurston, que serve de guia para a organização da exposição em 12 características do dandyismo negro. Seções como “Ownership” e “Jook”, que aborda música e dança, destacam desde um uniforme de pessoa escravizada do século 19 até Zoot suits dos anos 40 e peças contemporâneas de Pharrell Williams e Virgil Abloh para a Louis Vuitton.
Miller destaca que muitos dos designers presentes na exposição têm herança na África Ocidental ou no Caribe e são profundamente versados nos temas abordados, como imigração, escravidão, colonização, poder e estética. Para Andrew Bolton, a moda masculina está em um momento de renascimento, em grande parte graças aos designers negros e aos homens de estilo que não têm medo de desafiar convenções, como Pharrell Williams, Colman Domingo, Lewis Hamilton, A$AP Rocky e LeBron James, que serão co-presidentes do Met Gala de 2025.
Assim como em outros anos, a exposição contará com colaborações de artistas influentes. Torkwase Dyson será responsável pelo design conceitual da exposição, enquanto Tanda Francis criará cabeças de manequins exclusivas para o evento. Tyler Mitchell, conhecido por ser o primeiro negro a fotografar uma capa da Vogue americana, será o responsável pelas fotos do catálogo da exposição.
“Superfine: Tailoring Black Style” será realizada com o apoio da Louis Vuitton, do Instagram, da Hobson/Lucas Family Foundation, de Dr. Precious Moloi-Motsepe e Africa Fashion International, Tyler Perry e Condé Nast. A exposição acontecerá de 10 de maio a 26 de outubro de 2025, com o Met Gala marcado para 5 de maio.
No Brasil, essa exposição não apenas ressoa pelo destaque internacional que oferece à criatividade negra, mas também pela possibilidade de refletirmos sobre nossas próprias expressões culturais e estéticas. O dandyismo negro pode ser visto em nossas ruas, na cultura do passinho, no trabalho de estilistas como Isaac Silva e nos movimentos da moda afro-brasileira, que buscam afirmar nossa identidade em um país marcado por tantas desigualdades e injustiças históricas. Assim como na exposição do Met, é sobre ser visível, desafiar convenções e reimaginar o que significa ser negro e livre.