O que é preciso para ganhar um Leão de Ouro em Cannes?

Quais os critérios para ganhar um Leão de Ouro no Cannes Lions? A diversidade racial e cultural no festival está crescendo? Como as campanhas podem abordar temas raciais de maneira estratégica e impactante?

O que é preciso para ganhar um Leão de Ouro em Cannes?

Há 70 anos, o universo da criatividade é mobilizado pelo maior festival de criatividade do mundo. Desde 1954, o Cannes Lions reúne profissionais renomados da inovação e criatividade de diversos países para trocar experiências, celebrar e premiar os melhores trabalhos em publicidade e comunicação.

Apesar do nome, o festival não foi criado na França, mas sim na Itália. Se em sua primeira edição, em Veneza, contou com mais de 187 inscritos, na edição que aconteceu há semanas, foram cerca de 27 mil. No Cannes Lions 2024, mais de 37 países foram representados por membros do júri ou agências.

Para nós, criativos, ganhar um Leão de Ouro em Cannes é como ganhar um Oscar. São diversas agências inscritas apresentando trabalhos feitos por equipes renomadas. Contudo, não é apenas o nome da agência ou seu tempo de trajetória que irão definir o sucesso do trabalho.

Para ganhar um Leão de Ouro no Cannes Lions, uma peça publicitária precisa se destacar em várias áreas-chave que são avaliadas pelos jurados. Compartilho aqui 5 critérios que considero fundamentais, de acordo com o que vi no Cannes Lions deste ano:

Diversidade

Me alegra dizer que, em 2024, a pauta racial ganhou Cannes. Durante os dias de festival, tive a oportunidade de participar de diversos painéis com recorte racial na indústria da criatividade. Além disso, agências brasileiras ganharam o Leão de Ouro com campanhas que tocaram nesta temática, como foi o caso das peças feitas para Johnnie Walker e Bradesco Seguros pela AlmapBBDO.

Em ambos os cases, o que se vê é uma peça equilibrada, onde a temática racial é incluída de maneira estratégica e inteligente, causando identificação e impacto. Essa é uma tendência que tende a crescer no mercado. Nós, pessoas negras, agradecemos! (é uma ótima oportunidade de levar os nossos insights).

Além da diversidade racial, também percebo uma maior inclinação para outros países. A indústria criativa é historicamente comandada pelo norte global, e por homens brancos. Essa hegemonia do mercado está se afrouxando cada dia mais, para que novas narrativas (reais, inovadoras e disruptivas) possam conectar marcas, artistas, causas sociais e o público consumidor.

Criativos da China, Japão, Paquistão e tantos outros países estão impactando o universo criativo com tecnologia avançada e profissionais competentes. Está na hora de acompanhá-los.

Qualidade de produção e inovação em uso de meios

A qualidade da produção é essencial. A execução técnica impecável, incluindo elementos visuais, sonoros e narrativos, é crucial. Não adianta ter uma ideia genial se a execução tiver falhas.

Outro ponto muito importante é a adaptação dessa campanha para tipos variados de meios. Inovações no uso de mídias tradicionais e digitais, bem como a integração de novas tecnologias e plataformas, são aspectos extremamente apreciados. Quanto mais a campanha navegar pelos mais diversos tipos de mídia, melhor.

Originalidade e pertinência

Qualquer pessoa da indústria criativa já ouviu muito sobre “pensar fora da caixa”, e essa máxima se aplica em Cannes. É preciso que a campanha seja original, mas sem deixar de ser relevante para o seu público-alvo e pertinente ao contexto cultural e social em que está inserida. Um exemplo interessante é a campanha da Grey para a Universidade Zumbi dos Palmares, sobre a “bolsa antirracista”.

A peça traz o contexto do racismo, mas usa como produto uma bolsa, que é algo que foge do óbvio. A ideia é refletir sobre quantas vezes uma pessoa negra precisou abrir sua bolsa em um estabelecimento comercial para provar que não estava roubando. No plano de fundo, também há a brincadeira entre “bolsa de estudos” da universidade e a “bolsa antirracista” da marca.

Emoção e impacto

Lembrem-se: os jurados também são humanos. A capacidade de envolver emocionalmente o público, criar uma conexão e deixar uma impressão duradoura é altamente considerada por quem julga, mas também por quem consome. Nós já sabemos disso como consumidores, não é mesmo? Gerar emoção é uma maneira muito eficiente de criar uma conexão verdadeira. Contar com personalidades e famosos também pode ajudar, mas é óbvio que o match precisa ser perfeito. Essa pessoa precisa dialogar muito bem com os valores da marca e com o público.

Além disso, o impacto da campanha também é avaliado. A peça deve demonstrar ter alcançado os objetivos propostos, como aumentar o engajamento, gerar conversas ou incrementar as vendas. Evidências de impacto positivo são valorizadas.

Insight e Estratégia

É óbvio: nada disso é possível sem alinhar insight com estratégia. Quantas vezes nos perdemos em uma boa ideia? Uma peça forte geralmente começa com um insight profundo e uma estratégia bem definida que guiam a campanha de maneira eficaz.

Ganhamos um Leão

Este ano, tive a honra de segurar um Leão de Ouro nas mãos! A Mugshot foi premiada na categoria Áudio e Rádio com uma ação inovadora para a Budweiser Brasil, feita pela Africa Creative. A “UninterruptAds” é uma campanha que transforma músicas com a palavra “Budweiser” em anúncios no Spotify.

Esse também é um case muito bacana para mostrar conexão entre duas marcas: Spotify e Budweiser. Além de servir como exemplo de peça que leva em consideração as experiências do usuário.



Na campanha, as músicas são escolhidas para cada anúncio de forma personalizada, alinhada às playlists do ouvinte, com a ideia de não “cortar a vibe” de quem está ouvindo. A peça traz frases como “Spotify Free Users, Budweiser hears you”. Ou seja, o usuário é inserido como protagonista da experiência.

Essa campanha teve a participação de diversos profissionais altamente qualificados. Deixo aqui o meu reconhecimento a todos os profissionais altamente qualificados que abraçaram esse projeto na Africa Brasil, Modo Integrado e LaCarretera Filmes, além dos meus parceiros na Mugshot Music.

E você, o que pensa sobre a diversidade, originalidade e profissionalismo do Cannes Lions? A Casablack é um espaço para criativos negros trocarem experiências, dicas e demais conteúdos sobre inovação e cultura negra. Vamos nos conectar!

Créditos: @africaoficial @angersonc @leandro.bolacha @kafe @adrianosato @yllopedra @mugshotmusic @marianasa @sergiogordilho @joannamonteiro