A publicidade é uma indústria que desempenha um papel crucial na formação de narrativas e na construção de imagens que influenciam a sociedade. Você com certeza se lembra de atores, jingles ou frases retiradas de peças publicitárias que marcaram épocas, seja na televisão, rádio ou na internet.
A relevância dessas campanhas faz com que festivais renomados como o Cannes Lions, D&AD Awards e Clube de Criação, responsáveis por premiar a excelência criativa, tenham uma influência significativa sobre o mercado e as tendências globais da comunicação.
No entanto, a caneta das avaliações técnicas desses festivais está nas mãos de quem? Qual é o perfil e a origem dos avaliadores? Em 2022, a organização do Cannes Lions anunciou um compromisso com a diversidade na composição dos júris. Em festivais nacionais, como o Clube de Criação, também têm sido feitos esforços nessa direção.
Contudo, se olharmos para os festivais de forma geral, o percentual de mulheres negras na composição dos júris ainda é extremamente baixo, o que reflete no mercado como um todo. Segundo o Censo de Diversidade na Propaganda 2020, realizado pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP) e o Grupo de Mídia, apenas 0,7% dos cargos de liderança nas agências de publicidade são ocupados por mulheres negras.
O fato é que nós, mulheres negras, enfrentamos uma dupla barreira de gênero e raça, resultando em uma presença muito menor em cargos técnicos, de poder e tomada de decisão. Essa realidade não é uma questão apenas pela sub-representação e diferença salarial, que em si já é um grande problema, mas porque afastar as mulheres negras dos cargos e festivais do mundo da publicidade empobrece o setor da criatividade. Já tive a honra de compor o júri de festivais nacionais e internacionais e gostaria de ver mais mulheres negras ocupando esses espaços.
Com isso, compartilho com vocês 5 motivos para incluir mulheres negras nos júris de Festivais de Publicidade:
1 – Mais diversidade nas avaliações
A diversidade é um pilar fundamental da criatividade. Mulheres negras trazem para o júri experiências e perspectivas únicas, moldadas por suas vivências em uma sociedade historicamente desigual. Ao sermos incluídas nesses espaços, contribuímos para que projetos publicitários sejam avaliados de forma mais abrangente e sensível a diferentes contextos culturais e sociais.
A ausência de mulheres negras nos júris de grandes festivais limita a capacidade da publicidade de ser uma força inclusiva. Trabalhos que abordam questões raciais, de gênero e sociais podem não ser avaliados com a profundidade necessária se aqueles que compõem o júri não tiverem vivenciado ou entendido essas realidades. Dessa forma, a inclusão de mulheres negras enriquece o debate criativo e permite que campanhas que desafiam estereótipos e promovem a diversidade tenham o reconhecimento merecido.
2 – Combate à invisibilidade
A publicidade tem sido historicamente uma indústria predominantemente masculina e branca, tanto nas criações quanto nos espaços de premiação. A ausência de mulheres negras nos júris reflete a sub-representação que nós enfrentamos em várias esferas da sociedade. A inclusão dessas mulheres nos processos de avaliação de projetos publicitários é um passo importante para combater a invisibilidade que lhes foi imposta. Festivais como o Cannes Lions são vitrines mundiais, e a composição de seus júris deve espelhar a pluralidade da sociedade contemporânea.
3 – Reconhecimento de talentos novos, negros, periféricos, etc.
A inclusão de mulheres negras no júri também é uma forma de garantir que trabalhos de criativos negros sejam justamente avaliados. Frequentemente, projetos que vêm de grupos historicamente marginalizados são subvalorizados ou ignorados, pois os critérios de julgamento são pautados por um ponto de vista eurocêntrico ou de classes privilegiadas.
A diversidade na composição do júri permite que essas criações sejam vistas sob uma lente mais justa, reconhecendo o talento e a inovação, em detrimento dos preconceitos.
4 – Diálogo com o público consumidor
O público-alvo da publicidade é extremamente diverso, e é fundamental que as campanhas reflitam essa pluralidade. Se os júris responsáveis por avaliar o que é ou não criativo, relevante e inovador forem compostos apenas por grupos homogêneos, as campanhas escolhidas para representar o ápice da publicidade continuarão a reproduzir visões limitadas e desatualizadas.
Mulheres negras, por suas experiências únicas, têm a capacidade de identificar nuances culturais e sociais que muitas vezes passam despercebidas por outros grupos.
5 – Mudanças futuras para o setor
Incluir mulheres negras na composição de júris de festivais de publicidade é, acima de tudo, um passo importante na construção de uma indústria mais inclusiva e representativa. Isso não apenas gera um impacto imediato na forma como os projetos são avaliados, mas também contribui para uma transformação de longo prazo na cultura organizacional da publicidade.
Uma indústria que se propõe a ser criativa e inovadora não pode perpetuar estruturas excludentes. A diversidade de gênero e raça nos júris traz um frescor à avaliação dos trabalhos e promove a criação de campanhas que realmente se conectam com a multiplicidade do público.
Além disso, quando mulheres negras ocupam espaços de decisão, como os júris de festivais de publicidade, elas servem como exemplo para futuras gerações. Nós, quando ocupamos esses espaços, incentivamos a continuidade da participação de outras jovens negras criativas. Esse é o maior triunfo: seguir conquistando espaços e abrindo os caminhos.