A personalidade deste episódio reclama que toda reportagem ou citação sobre ela coloca após seu nome a sequência de palavras “mulher, negra, trans, nordestina”.
Mas seria impossível não trazer estes adjetivos para contar um pouco sobre sua história. Porque eles são, também, representativos do grande feito que ela conquistou: afinal, ela conseguiu ser a primeira mulher trans eleita da história do Brasil e a primeira trans negra do mundo. Com seus cinquenta e 55.223 votos, eleita pelo PSOL, levando para a política sua luta por igualdade de gênero, de raça e direitos aos LGBTs.
Ela é deputada estadual em São Paulo, conseguindo penetrar neste espaço de poder no qual, entre 94 parlamentares, apenas quatro são homens e mulheres negras. Mas ela é também ativista, educadora e artista, uma mulher que trabalhou na área da educação por muitos anos, atuando na formação de professores com temas ligados a arte, cultura e política. E, além de produzir também trabalhos de fotografia, performance, escrita e desenhos, é o nome por trás do Aparelha Luzia, espaço em São Paulo onde acontecem festas, cursos, formações, debates e é um lugar onde “negras e negros se reconectam com seus iguais, reorganizam a coletividade em uma dimensão ampliada e aprendem a estar juntos”, segundo suas próprias palavras.
É a história desta mulher que vamos ouvir agora. Uma mulher cuja candidatura e eleição se concretizaram representando a resistência e a radicalidade para garantir a segurança das mulheres e dos LGBTQs, acolher a população de rua, possibilitar a existência dos negros, fazer valer uma educação plural, livre e democrática e poder reescrever uma história que não está registrada em muitos livros. A negra desta semana é Erica Malunguinho.