Empreender, muito além do romantismo

Empreender é identificar oportunidades e agir, seja na favela, no digital ou com impacto social.

Empreender, muito além do romantismo Imagem gerada por IA

Muitas pessoas têm dificuldade de se autodenominarem como empresários ou empreendedores. O empreendedorismo ainda é frequentemente associado à criação de grandes empresas, startups e investimentos financeiros. No entanto, essa ideia é limitada. Empreender significa identificar oportunidades, agir de forma proativa e gerar valor, e essa iniciativa pode ocorrer de diversas formas.

Nas favelas brasileiras, o empreendedorismo faz parte do cotidiano desde sempre. Segundo o Data Favela, entre os 17,9 milhões de moradores de favelas no Brasil, 5,2 milhões são empreendedores, mas apenas 37% estão formalizados. Essa formalização precisa acontecer para assegurar esses trabalhadores. Durante a última edição do Expo Favelas em São Paulo, evento que conecta empreendedores periféricos, marcas, iniciativas governamentais, entre outros, tive a oportunidade de trocar experiências com diversos empreendedores de diversas comunidades brasileiras, de norte a sul do país.

Ao longo das palestras, ouvi uma premissa importante do empreendedorismo: para ganhar dinheiro ou ter relevância, você precisa detectar um problema e vender/apresentar uma solução.

Eu, que nasci e cresci em contexto periférico e me tornei CEO da indústria da criatividade, sei do impacto que podem causar até mesmo os pequenos negócios, uma vez que eles estejam alinhados com aquilo que as pessoas ou o mercado consumidor precisam. Quanto mais próximo da necessidade das pessoas, mais chance de estabelecer vínculos e acertar no serviço ou produto oferecido. Essa noção se adquire com suor, conhecimento e criatividade. Mas afinal, você sabe quais são os tipos de empreendedorismo possíveis? Cito abaixo 3 modalidades.

Empreendedorismo Individual

O empreendedorismo individual de pessoas jurídicas (PJs), como microempreendedores individuais (MEIs), é extremamente presente no Brasil. O país tem 13,2 milhões de MEIs, que representam 70% das empresas nacionais. Apenas em 2024, foram criadas mais de 2,8 milhões de pequenas empresas, segundo o SEBRAE. A maioria delas, mais de 1,7 milhões, está na área de serviços.

Seja como freelancers, prestadores de serviço ou donos de pequenas empresas, esses empreendedores assumem a responsabilidade de gerir suas atividades, negociar contratos e oferecer valor aos clientes.

Segundo o Data Favela, entre os 17,9 milhões de moradores de favelas no Brasil, 5,2 milhões são empreendedores, mas apenas 37% estão formalizados. (Imagem gerada por IA)

Empreendedorismo Social

Ascender financeiramente e obter renda não é o único motivo pelo qual as pessoas empreendem. Os empreendedores sociais estão buscando soluções para problemas não resolvidos por políticas públicas adequadas.

Essa forma de empreender segue firme no Brasil e no mundo por meio de projetos sociais, organizações da sociedade civil e demais iniciativas que se debruçam sobre os desafios de comunidades e territórios. As organizações do chamado terceiro setor podem atuar em diversas áreas, como saúde, educação, políticas públicas e direitos humanos. Trabalham tanto com a prestação de serviços quanto com a conscientização e pressão pública em prol de uma causa.

Atualmente, a questão ambiental está bastante em voga, e tem crescido a quantidade de empreendedores sociais da área climática.

Empreendedorismo Digital

A crescente digitalização gera um mercado cada vez mais aquecido. Empreendedores digitais podem vender produtos, desenvolver plataformas, aplicativos e sites ou gerar conteúdo nas redes sociais, como fazem os influenciadores ou creators.

O mercado de creators vem crescendo em ritmo acelerado, entre 10% e 20% ao ano no mundo, segundo o estudo A Presença Brasileira na Creator Economy, desenvolvido pela Hotmart, empresa global em tecnologia.



A previsão é que esse mercado dobre de tamanho até 2027, chegando a US$ 480 bilhões, segundo o Goldman Sachs. O Brasil não fica de fora. Pelo contrário: brasileiros passam o dobro do tempo nas redes sociais em comparação com o restante do mundo e também estão acima da média mundial em acompanhamento de influenciadores. Em 2023, aproximadamente 7 milhões de brasileiros monetizaram conteúdos digitais, por meio de canais no YouTube, venda de produtos digitais ou posts patrocinados.

É importante ressaltar o quanto o empreendedorismo sempre foi fundamental para as mulheres. O empreendedorismo feminino é uma das formas mais poderosas de promover igualdade de gênero e fortalecer a presença das mulheres no mercado de trabalho.

Muitas mulheres encontram no empreendedorismo uma alternativa para driblar barreiras como desigualdade salarial, falta de flexibilidade e preconceitos. Segundo o Sebrae, o Brasil é um dos países com maior número de mulheres empreendedoras no mundo. No entanto, ainda há desafios significativos, como dificuldade de acesso a crédito e redes de apoio. Investir no fortalecimento do empreendedorismo feminino é essencial para criar um mercado de trabalho mais igualitário. Vamos nessa.