25.07.2025 Ícone da categoria

Mulheres passam a liderar grandes holdings de comunicação, mas ainda não é hora de festa

Mulheres assumem liderança em grandes holdings de comunicação, mas desigualdade de gênero e raça ainda marca o setor.

Mulheres passam a liderar grandes holdings de comunicação, mas ainda não é hora de festa

Neste mês, o mercado da comunicação assistiu a um movimento de avanço na representatividade feminina em cargos de liderança. Grandes holdings globais do setor passam a ser lideradas por mulheres: Cindy Rose, no WPP, e Ndidi Oteh, na Accenture Song.

Para quem está há mais de duas décadas neste mercado, como eu, é impossível não perceber a força dessa notícia. O fato dessas mulheres estarem ocupando cadeiras que historicamente foram exclusivas para homens brancos faz um aceno para a diversidade no setor e serve de exemplo para demais companhias.

Cindy Rose, nova CEO da WPP

Contudo, o cenário ainda é de desafio. Representatividade é importante, mas ela não pode servir para dar o assunto como encerrado. Precisamos de representação real.

Os números não mentem: ainda é pouco

O cenário ainda é desigual, sobretudo no Brasil. De acordo com o último censo do Observatório da Diversidade na Propaganda, as mulheres representam 57% da força de trabalho nas agências brasileiras. Ou seja: somos maioria. Mas, quando o assunto é liderança, essa representatividade despenca. Apenas 24% das posições de CEO são ocupadas por mulheres, contra 76% lideradas por homens.

A pergunta é direta: o que impede que as mulheres, sendo maioria nas equipes, estejam no comando das decisões? As respostas são muitas, mas com certeza uma delas é a ausência de políticas públicas consistentes para a conciliação entre maternidade e carreira. O mercado, a política e a cultura do país ainda atrasam ou impossibilitam o crescimento profissional da mulher mãe, com ausência de creches, divisão desigual de tarefas do lar e uma licença-maternidade que, mesmo quando garantida, não é acompanhada de políticas corporativas de reintegração.

Outro obstáculo é o machismo de cada dia. Ele está presente na forma como reuniões são conduzidas, em quem tem a fala validada, em quem assume os créditos por ideias, em quem é lembrado para liderar um projeto ou ocupar um cargo de visibilidade.

Ndidi Oteh, CEO da Accenture Song.

Mulheres negras

Os dados mostram uma defasagem ainda maior para as mulheres negras. O estudo “Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023”, realizado pela Gestão Kairós, escancara esse abismo: 68% dos profissionais nas agências são brancos, 30% são negros (pretos e pardos). Mas, quando olhamos para as posições de liderança, apenas 4,6% são mulheres negras. Esses dados indicam não apenas uma sub-representação, mas uma lógica de exclusão.

O que precisa mudar? Existem caminhos possíveis e urgentes:

Reconhecer o problema. Admitir que a comunicação, apesar do seu discurso de inovação e inclusão, ainda reproduz desigualdades históricas.

Transformar a estrutura: rever políticas de contratação e promoção, garantir metas de diversidade com acompanhamento real, investir em programas de mentoria e capacitação para mulheres, principalmente negras, e criar ambientes onde essas lideranças possam florescer e se sentirem acolhidas.

Pressão por mudanças estruturais fora do setor: mais políticas públicas para equidade de gênero e raça, incentivo à paternidade ativa, garantia de direitos para trabalhadoras autônomas, entre outros.



Como mulher negra e CEO, sei que investir em liderança feminina não é só necessário para promover igualdade, mas também é importante e lucrativo. Líderes mulheres são inovadoras, estratégicas, inteligentes, criativas, ativas, entre outras características.

Aliás, já não cabe tanto reforçarmos os binarismos de gênero em relação às nossas habilidades profissionais. Mulheres são práticas e fortes, assim como homens também podem ser sensíveis. Cada pessoa traz a sua bagagem de vida para o mercado.

Quais mulheres CEOs da comunicação vocês conhecem e admiram?