Por redes sociais que acolham a comunidade negra

É fundamental a existência de espaços digitais que atendam às necessidades das diversas comunidades, em suas particularidades, permitindo que elas se expressem livremente e se conectem com outras pessoas de forma a possibilitar a evolução de plataformas como conhecemos

Por redes sociais que acolham a comunidade negra

A postura dos criadores e líderes de plataformas de mídia social desempenha um papel crucial na moldagem da cultura online. Ela pode determinar o quanto as pessoas permanecem engajadas, criando conteúdo e se conectando com outros usuários, ou se fogem para as colinas digitais. Esta liderança também tem o poder de impactar questões como racismo e assédio nas redes sociais. Quando Elon Musk comprou o Twitter, anunciando seu desejo de adotar uma política de liberdade de expressão absoluta, a vibração mudou para pior.

Essa mudança resultou em um aumento significativo de assédio direcionado à comunidade negra. O racismo nas mídias sociais não é novo, mas sob a liderança de Musk, os fanáticos se sentiram capacitados para assediar os negros com vigor renovado. Nas primeiras doze horas do Twitter “sob nova direção”, houve um aumento de quase 500% no uso da palavra com N, entre os usuários utilizadores da língua inglesa. Outra consequência foi o grande número de funcionários do chamado “Black Twitter” demitidos ou que optaram por deixar a plataforma.

Diante desse cenário, os ex-funcionários do Twitter, Alphonzo “Phonz” Terrell e DeVaris Brown, lançaram uma nova plataforma de mídia social chamada Spill, que visa fornecer um ambiente mais acolhedor e seguro para os usuários negros. O Spill se apresenta como um espaço de “conversas visuais na velocidade da cultura”, utilizando a linguagem do inglês vernacular afro-americano. A plataforma é uma alternativa que atende às necessidades das comunidades marginalizadas, permitindo que elas construam uma comunidade própria, livre de assédio e discurso de ódio.

Os ex-funcionários do Twitter, Alphonzo "Phonz" Terrell e DeVaris Brown, lançaram uma nova plataforma de mídia social chamada Spill, que visa fornecer um ambiente mais acolhedor e seguro para os usuários negros. O Spill se apresenta como um espaço de "conversas visuais na
Os ex-funcionários do Twitter, Alphonzo “Phonz” Terrell e DeVaris Brown, lançaram uma nova plataforma de mídia social chamada Spill: um ambiente mais acolhedor e seguro para os usuários negros

É evidente que as principais plataformas de mídia social, em sua maioria operadas por pessoas brancas, muitas vezes não atendem às necessidades da comunidade negra e de outras comunidades marginalizadas. Surge então uma demanda por plataformas como a Spill, que desafia os sites tradicionais, como Twitter, Facebook e Instagram.

Estudos demonstram que as políticas insensíveis ao discurso de ódio do Facebook tiveram impactos negativos nos usuários negros. Sob a liderança de Elon Musk, o Twitter se tornou um ambiente hostil para a comunidade negra. No entanto, o “Black Twitter” não foi destruído, mas sim busca novas alternativas que lhes permitam continuar construindo uma comunidade digital. O surgimento do Spill significa que os negros têm um novo espaço onde o discurso de ódio é proibido.

O Spill já recebeu críticas positivas por sua proposta de ser um refúgio seguro para pessoas negras e LGBTQIAP+. Comentários de usuários afirmam que encontraram um novo lar e se libertaram dos espaços digitais que ignoram seus direitos humanos e tratam o racismo como uma simples diferença de opinião.

E agora, o Threads?

Com o surgimento da rede social Threads, lançada pela Meta e que configura como uma extensão do Instagram, buscando conquistar um espaço deixado pela debandada do Twitter frente ao modelo implementado por Elon Musk, uma nova esperança se manifesta na expectativa de que a plataforma se torne um espaço saudável e seguro para pessoas negras.

É muito fácil perceber como a falta de controle e propósito de líderes em fazer das plataformas lugares seguros podem dar vazão a comentários racistas, discursos de ódio e a disseminação de estereótipos prejudiciais, criando um ambiente hostil para pessoas negras.



Não obstante a utilização do Facebook como rede social amplamente utilizada como ferramenta de manobra política, sem os recursos necessários para impedir a veiculação de fake news e conteúdo massivo que têm impactado socialmente diversos países, há uma esperança, naturalmente impelida por tudo o que é novo, de que a experiência a partir do nascimento do Threads possa ser diferente. O Instagram, como uma das maiores plataformas sociais do mundo, tem a oportunidade de aprender com os erros do passado e implementar medidas eficazes para prevenir e combater o discurso de ódio e a discriminação racial. A equipe por trás do Threads pode estabelecer diretrizes claras, regras de conduta e mecanismos de denúncia robustos, a fim de criar um ambiente saudável e seguro para pessoas negras e para todos os usuários.

Além disso, é fundamental reconhecer o papel da diversidade e inclusão na construção de uma plataforma saudável. A inserção e presença de perspectivas e vozes diversas nas equipes de desenvolvimento e moderação certamente ajudariam a garantir que as preocupações e necessidades das comunidades negras sejam consideradas e abordadas adequadamente.

Diretrizes claras e rígidas, lideranças determinadas na construção de uma cultura online inclusiva e segura, são fundamentais para um ambiente digital saudável e justo. Seja no Threads ou no surgimento de alternativas como o Spill, o que está claro é a demanda por espaços que atendam às necessidades das diversas comunidades, em suas particularidades, permitindo que elas se expressem livremente e se conectem com outras pessoas de forma a possibilitar a evolução de plataformas como conhecemos, para modelos ainda mais ricos.