Mauro Mateus dos Santos, maestro da periferia, ator de cinema, traficante dos dois revólveres na cinta, namoradinho da Dalva, filho da guerreira dona Ivonete, devoto de Iemanjá e sobretudo um devoto do rap nascido na favela do Canão, zona sul de São Paulo, disse em sua última entrevista, publicada postumamente na Trip de março de 2003, que Chico Buarque poderia muito bem estar falando dele quando escreveu o samba “O meu guri”. “Aquilo era o meu retrato no morro”, contou Sabotage, ou simplesmente Maurinho, que se descrevia na entrevista como “o cara que olha nas bolinha dos zoio”.

Sabotage, no legado musical que deixou, marca a história do hip hop nacional como um rapper que trouxe novas possibilidades para o gênero, mudando um cenário dominado então por um rap mais denso e direto, como os feitos por Racionais e Facção Central, entre outros.

O flow peculiar, repleto de timming, a capacidade de improvisação e a de passar por diversos ritmos e tempos na sua rima, migrando do punchline para um speed flow, por exemplo: tudo isso marca fortemente o estilo único de Sabotage, muito alimentado por sua capacidade de dialogar com outros ritmos musicais.

Sabotage foi um artista que rompeu barreiras de linguagens, ritmos e referências. Também foi consultor e ator de filmes como “O Invasor” e “Carandiru”, no qual agregou àquelas temáticas cruas, suburbanas, todo o seu conhecimento do universo da criminalidade e da periferia.

De Sabotage ficou este legado tão rico, que justifica a lenda em torno do Maestro do Canão: as técnicas de composição, a métrica, a levada. Seu flow único, sua a liberdade de misturar ritmos, tornando-o um artista à frente do seu tempo.

Um artista de periferia que se abriu ao ecletismo e às diversas possibilidades.

Se ele ainda tivesse vivo, certamente seria um nome tão grande quanto o dos Racionais MCs. Conhecido no Brasil inteiro e até além.

A morte ajudou a dar ao Sabotage este ar de mitologia, de santidade. O importante é não esquecermos da obra, que atesta a maior qualidade com a qual ele deve ser sempre reconhecido: genialidade.

É por isto que Sabotage, este artista fundamental, é o personagem deste episódio de Negro da Semana.

Trechos deste episódio. Todos os direitos reservados:

1 – Paulo Miklos | Documentário “Sabotage Maestro do Canão” (Direção: Denis Feijão e Ivan13P)
2 – Canão Foi Tão Bom (part. DBS, Negra Li, Lakers, Instituto e Ganjaman)
3 – Sabotage falando como começou a fazer rap | Documentário “Sabotage Nós ao Compromisso do Rap” (Direção: Guilherme Xavier Ribeiro)
4 – Sabotage fala sobre o tráfico na periferia | Documentário “Sabotage Nós ao Compromisso do Rap” (Direção: Guilherme Xavier Ribeiro)
5 – Rappin’Hood e RZO | Documentário “Sabotage Nós ao Compromisso do Rap” (Direção: Guilherme Xavier Ribeiro)
6 – Sabotage fala no programa “MTV Tome Conta do Brasil”, em 2002, sobre o incentivo do tráfico para que investisse na carreira de cantor | Documentário “Sabotage Nós ao Compromisso do Rap” (Direção: Guilherme Xavier Ribeiro)
7 – ‘Mun Rá’ ao vivo com as crianças da comunidade | Documentário “Sabotage Maestro do Canão” (Direção: Denis Feijão e Ivan13P)
8 – Tejo Damasceno, do Instituto, falando sobre primeira gravação de Sabotage, seguido pelo áudio da gravação | Documentário “Sabotage Nós ao Compromisso do Rap” (Direção: Guilherme Xavier Ribeiro)
9 – Cantando pro Santo
10 – Rap é Compromisso
11 – Um bom Lugar
12 – Cocaína
13 – Mun Rá
14 – Sabotage no Programa “Altas Horas”, 2002 | Rede Globo
15 – Sai da Frente
16 – Trecho do filme “Carandiru” de Hector Babenco
17 – O Meu Guri, Chico Buarque
18 – País da Fome
19 – Daniel Ganjamen | | Documentário “Sabotage Maestro do Canão” (Direção: Denis Feijão e Ivan13P)
20 – Sabotage rimando no improviso | Documentário…

Outros episódios

Sobre o podcast

Quem são as personalidades negras fundamentais da História? É para responder a esta pergunta que Alê Garcia criou este podcast.

Equipe

Alê Garcia
Alê Garcia Co-fundador e Chief Creative Officer da Casablack. Um dos 20 creators negros mais inovadores do país segundo a Forbes. Uma das 100 Personalidades Negras Mais Influentes da Lusofonia segundo a Bantumen. Finalista do Prêmio Jabuti, ganhador do Prêmio Fundação Biblioteca Nacional, Profissionais do Ano da Rede Globo, entre outros.

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